O Brasil comemora, este ano, o centenário de ilustres filhos seus. Entre eles, dentre muitos já focalizados e outros que o serão no decorrer dos meses faltantes, de dois que nasceram nas montanhas. Nas montanhas, sim: Juscelino, que é de Diamantina, e Carlos Drummond de Andrade, de Itabira, e o topônimo define o suficiente.
Neste 2022, de tantas e tamanhas incertezas e de desagradáveis e perigosas certezas, em que a Covid-19 ameaça com uma nova e dramática da nova onde anunciada pelo coronavírus, tem-se assistido às acanhadas festividades de doze décadas do filho de D. Júlia, mas também, e com toda razão, de Drummond, com dois dês, como consta do batismo e do registro em cartório.
Nem as criminosas enchentes e respectivas mortes em Petrópolis, nem tantos sucessos e insucessos de acontecimentos que marcaram o calendário, foram obstáculos ao que se tem dito e publicado, inclusive pelas televisões, para lembra o poeta. Ele é gloriosamente lembrado em livro de Humberto Werneck, cujo conteúdo já é ansiosamente aguardado pelos intelectuais e escritores cá de nossa fecunda terrinha.
Stratford-upon-Avon agora se transportou para o interior mineiro, porque lá veio à vida e às letras brasileiras Drummond, o mais popular dos que fizeram poesia por aqui no século passado.
Fazendo estreia no ano em que nasci, com “Alguma Poesia”, ele conquistou lugar ao sol e à lua na cidade em que JK foi prefeito, para ascender ao Palácio da Liberdade e construir uma cidade extraterrestre no planalto.
Sem deixar de ser poeta, o que seria impossível, Drummond foi um arguto presente em todos os movimentos e momento marcantes da vida brasileira, sem medo de qualquer natureza.
Em plena revolução, a de 64, ele disse: “O maior erro de um Presidente da República, em nosso sistema de governo, está em considerar-se dono do País e de seus habitantes. Esquece-se de que é um servidor – um servente de ajuda no trabalho – como outros, e até mais tolhido e desamparado do que os outros, em seu período livre de exercício e na imensidão de obrigações que deveriam assustá-lo em lugar de enchê-lo de arrogância. É preciso muita lucidez, muita polícia íntima, para que o presidente se ponha no seu lugar, aparentemente o mais alto de todos e, no sentido moral, tão frágil e escravizado à lei quanto o de um mata-mosquito”.
Drummond nos deixou em 17 de agosto de 1987, dez anos antes do centenário de sua Belo Horizonte.