As televisões e as rádios em seus noticiários se referem ao “novo cangaço”, banditismo que invade as cidades menores ou mais (ou menos) distantes dos grandes centros. Grupos de rudes marginais entram em ação principalmente para roubo a bancos. Tudo muito bem organizado, veículos para transporte dos assaltantes e para armas, rádio comunicadores, sumamente importantes para seus desígnios. Entrosados e audaciosos, obedecendo a esquemas bem urdidos, têm vencido muitas vezes as disposições legais.
Se assim é o “novo cangaço”, deve-se ater ao que era o “velho”, que teve seu representante mais alto em Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que – por vários anos – infernizou o interior brasileiro, do Nordeste até regiões de Minas Gerais. Virou filme, exibido nos cinemas e, depois, pelas redes de televisão.
Livros têm sido escritos sobre o tema, ainda não esgotado. O mais recente é “O Cangaço”, de Enéas Athanázio, um autor da melhor qualidade, pesquisador dos fatos, que não se contenta em ouvi-los e de ler a respeito. Ele vai ao âmago, procura visitar as áreas em que seus protagonistas atuaram e onde ganharam fama.
Enéas, com seu quartel-general em Camboriú, Santa Catarina, já formou biblioteca sobre o Cangaço. Sua obra mais recente lançado pela Editora Minarete, este ano. É algo que vale a pena ser lido, pelo que sintetiza de estudo e análise de muitos livros que chegaram e continuam chegando à sua casa, para enriquecer conhecimentos aprimorando sobre tema tão atrativo.
Nascido em 1897, na atual Serra Talhada, Pernambuco, o bandido-mor, teve o pai possivelmente assassinado pela polícia. Começa, deste modo, sua carreira, seguinte à de trabalhador da terra. Para vingar-se, ingressa no bando de Sinhô Pereira, já famoso. Quando este decide abandonar o cangaço, seu sucessor é o próprio Virgulino, alcunhado de Lampião, que conquista grande prestígio entre os moradores do sertão, ganha espaço, mete-se em mil aventuras, casa com Maria Bonita, forma família até ser surpreendido em uma emboscada na Grota do Angico, Sergipe, em que morre com a companheira.
Fui também ver de perto suas cabeças decepadas no Instituto Nina Rodrigues, em Salvador. Algo de arrepiar, que estimula à leitura de Enéas, não circunscrito a Lampião.