O Rio de Janeiro ainda oferece alguns dos mais belos panoramas naturais do mundo. Não sem razão atrai turistas de todo o planeta. Mas a antiga capital não convida à visita como em tempos de antanho. A época em que os morros seduziam pela música de poetas e compositores como Noel Rosa é passado. O apito da fábrica de tecidos ficou esquecido ou arquivado nas prateleiras das emissoras de rádio, ou dos saudosistas.
Agora é bala, droga, contrabando, toda espécie de falcatruas e violência. A fase do inspetor Padilha prendendo malandros e meliantes pelas ruas se tornou pretérito. Agora, a atividade criminosa se fez mais esmerada, mais técnica, mais ostensiva.
Formam-se poderosas quadrilhas ou “organizações criminosas” contando com os sofisticados instrumentos de ação, inclusive de comunicação. Se há polícia de um lado, há para contrapor-se as milícias, às vezes mais bem armadas, municiadas e preparadas.
O “evento” de 6 de maio, em Jacarezinho, que deixou 29 mortos expõe claramente a dimensão das lutas que ora se travam. O crime tomou tal extensão de penetração que impossibilita praticamente distinguir o cidadão honesto (que também os há na periferia das grandes cidades) do marginal, do bandido, vamos dizer.
Em realidade, as autoridades federais, estaduais e municipais não encontram formas e fórmulas de vencer os fortes dispositivos dos fora da lei, em ponderável parcela, experimentados à suficiência para seu detestável labor. Estão conscientes do que fazem e plenamente certos de que nada têm a temer ou se arrepender. As oitivas das testemunhas e da famílias dos mortos em Jacarezinho dão um retrato da belicosidade.
A operação no Jacarezinho teria como alvo 21 réus sob acusação de associação ao tráfico, mas também por tentativas de atração de adolescentes ou jovens para a escola da ilegalidade. A ação policial foi dramática, segundo a defensora do Núcleo de Audiências de Custódia: “Foram relatos de uma das maiores violações de direitos que já vi na minha carreira. As narrativas foram de muito sangue, muitos mortos pelo chão, carregar corpos enviscerados, além das agressões psicológicas e físicas. Foi bastante impactante”.
A grande verdade: o Rio de Janeiro não é Copacabana, Leblon e Ipanema, sala de recepção da antiga capital brasileira. No anverso da moeda, temos as hoje apelidadas de comunidades, antigas favelas, e a que mais se produziu em derredor com muitas e muitas milhares de pessoas, desprotegidas ou não, com milicianos e assemelhados, que fazem seu governo, à sua maneira de agir. Não sei, sinceramente, o que será da cidade, que já foi maravilhosa, e se transformou num perigoso valhacouto de banditismo com ramificações por todo país.