Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Entre dois mundos

22/08/2016 às 19:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:30

Quando o assunto era Olimpíada, procurei a posição da Turquia no quadro de medalhas: zero. Tampouco encontrei reportagem ou noticiário específico sobre a atuação dos atletas daquele país, por mais cuidado que tivesse para não cometer erro. 

Tudo levava a crer que na região da antiga Anatólia houvesse maior interesse pelos jogos criados por Coubertin, como forma de evitar teoricamente guerras naquelas bandas. E os turcos teriam razão, tantos os conflitos em que se envolveram ao longo da história. Recentemente enfrentaram situação delicadíssima com a Rússia, mas se contendo uma luta armada de consequências imprevisíveis. 

Singular a Turquia. Seu território se espalha por dois continentes – Europa e Ásia –, embora aquela só ocupe 3%. A estratégica passagem entre o Mar Negro e o Mar Egeu divide Istambul, antiga Constantinopla, em duas. Metrópole cultural do país e ponto de contato entre o Ocidente e o Oriente Médio, ali se localizam marcas indeléveis das civilizações que a ocuparam. É uma cidade moderna que atrai turistas de todo o mundo, com os brasileiros se interessando mais e mais por conhecê-la. O país é o mais ocidentalizado entre os de maioria muçulmana, com liberdade religiosa absoluta, não se misturando religião com Estado. 

A presença da Turquia no noticiário reflete a preocupação das lideranças de todo o mundo quanto à evolução de fatos que ali se registram, diariamente. Em verdade, os turcos procuram seus próprios caminhos e, mais do que outras nações, têm razão. Sua posição geográfica facilita e suscita problemas hoje, como o foi no passado. Não é só. Trata-se de um campo de experiências e treinamento de povos vários, falando línguas diversas, numa região permanentemente belicosa. E a Turquia tem a seu lado o Curdistão, mais bravio hoje do que no tempo em que o alemão Karl May lhe dedicou um livro muito popular.

Depois da tentativa de golpe, reprimido violentamente pelo presidente Erdogan, ainda há dúvida, e muitas, com relação ao futuro. Afinal, o que se quer para aquele país e o que pretende a Turquia para si? Stefan Salej acha que “o mundo prefere mais uma Turquia ditatorial, desde que ajude a manter certo equilíbrio no Oriente Médio, do que um país democrático”. Salej é pessimista: 

Vamos continuar “a assistir a uma tragédia de uma nação marchando para o abismo democrático e levando o seu povo no expresso da meia-noite para uma escuridão que pensávamos que não existia mais, após o término do nazismo”. 

Quem lê jornal sabe perfeitamente: a Turquia tem sido abalada por uma onda de ataques desde o ano passado, reivindicados pelos rebeldes curdos do famoso PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou pelo Estado Islâmico, que não dá paz a ninguém em qualquer tempo e hora, na região convulsionada.

Erdogan, presidente turco, sempre duro na queda, responde: “Nosso país, nossa nação, só pode reiterar uma mensagem a quem nos ataca: fracassarão!”. No último domingo, 21 de agosto, houve um atentado suicida consumado por adolescente de 12/14 anos, que se explodiu durante uma festa de casamento de uma família curda, em Gaziantep, Sul do país. Resultado: 50 mortos e cerca do dobro de feridos. 

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