Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Fome no Rio

Publicado em 12/06/2024 às 06:00.

O assassinato da vereadora Marielle passou a fazer parte do noticiário de todos os veículos de comunicação do país. Não poderia ser de outro jeito e maneira, se nossa Imprensa quiser manter credibilidade. Enfim, o óbito se deu faz anos e ficou por isso mesmo, por mais que se esmerassem as autoridades em apontar culpados. Novas frentes de investigação, não tão novas assim, indicam possíveis mandantes do crime no Rio de Janeiro, sempre preparados para festejos, principalmente os carnavalescos ou esportivos. Sem contar, obviamente, os que enchem os fins de semana na periferia, com muita música, som alto, e sexo, é claro.

Mas o Rio de Janeiro não está sozinho, nem no riso, na alegria, nas cores, porque todo o Brasil se tem deixado envolver pela saga da felicidade, embora efêmera e falsa. Exemplo é o próprio caso de Marielle, que – desde o princípio – traz no rol de suspeitos gente de toda respeitabilidade.

Há mais – apesar de tanto riso, tanta alegria, tanto álcool e droga, outros aspectos a se levar em consideração. Os jornais da semana que passou não deixaram de dar ênfase a outra face da vida carioca, além dos milicianos e invasores de terras públicas ou de terceiros. Quero dizer da fome que perpassa a vida carioca. A insegurança alimentar grave é realidade em 7,9% das casas na capital fluminense. Em números redondos, absolutos, são 489 mil pessoas que passam fome. Isto é, quase meio milhão, sem ter comida suficiente no prato.

Os dados são oficiais, inéditos, inseridos no inquérito sobre a Insegurança Alimentar no Município do Rio de Janeiro. A verdade  verdadeira é que cerca de 2 milhões de cariocas com algum grau de insegurança alimentar, seja leve, moderada ou grave. O documento mostra a  quem desejar que o percentual de fome no município é quase o dobro, se comparado com a informação nacional recém-divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, merecedor de todo respeito.

Segundo o IBGE, conforme pesquisa divulgada em abril, a fome esteve presente em 4,1% das casas brasileiras. No Rio de Janeiro, o percentual é de 3,1% no Estado, mas a situação na capital fluminense é aguda. Claro que varia muito num país desigual como o nosso.

Um detalhe: a fome é maior nos lares chefiados por pessoas negras (9,5%). E há mais: 8,3% das famílias  comandadas por mulheres não têm o que comer.

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