Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Honduras em suspense

Publicado em 22/12/2017 às 19:45.Atualizado em 03/11/2021 às 00:25.

A América Latina, a que surgiu da colonização espanhola, continua a mesma. Há pouco, o presidente de Honduras, Juan Orlando Hernandes, candidato à reeleição, fez uma declaração importante. Estaria aberto à revisão na contagem dos votos da eleição presidencial deste ano. Em meio às alegações de fraudes, eclodiram protestos e renasceu a violência. Não se ousava dizer quem realmente venceu.

O presidente, mais sereno, pediu ao tribunal eleitoral o exame de todos os votos nas eleições de 26 de novembro, sob a ideia de que “o povo merece respeito”. O último resultado mostrava que o atual chefe de governo teria vencido com 43%, enquanto o opositor, Nasralla, ficara com 41,4%%. Ambos sustentavam terem vencido o pleito, enquanto organismos internacionais denunciavam irregularidades no processo.

A mesma novela de sempre. E Honduras é um país pequeno, não precisaria de tanto furdunço, tem menos de 120 mil quilômetros quadrados, com cerca de 2 milhões de habitantes, nação montanhosa, percorrida por numerosos cursos de água, com saídas para o Atlântico e o Pacífico, uma nesga, imprensada pela Guatemala, El Salvador e Nicarágua. Colombo tocou a sua costa, a de Honduras, em 1502.

Por lá, predominou o poder das grandes empresas norte-americanas, que exploravam a produção e exportação de bananas e as ferrovias. O poder de Tio Sam era tamanho que, em 1924, os Estados Unidos invadiram Honduras para proteger seus interesses. O jornalista Carlos Taquari, em livro, chega a dizer que “a exportação para o mercado norte-americano acabou marcando de forma triste a história dos países da América Central. Como essa era a única opção, os camponeses eram forçados a aceitar os baixos salários e as péssimas condições de trabalho. Os ditadores de plantão cuidavam para que os interesses das empresas não fossem ameaçados e para que não houvesse qualquer tipo de mobilização”. 

A situação de turbulência chegou aos campos esportivos. Houve a Guerra do Futebol, em 1968–1969, em que as disputas não se restringiram aos gramados, envolvendo hondurenhos e salvadorenhos. Na Copa do México, em 1970, o clima se tornou bélico, podemos dizer, após ser queimada a bandeira de Honduras. Revidando, os salvadorenhos residentes em Honduras foram agredidos pelos naturais do país, com mortos e feridos. As duas nações romperam relações e a Força Aérea de El Salvador atacou alvos em território do vizinho, enquanto o exército entrou em ação e aviões de Honduras atacaram depósitos de combustíveis em El Salvador. A OEA teve de entrar em ação, conseguindo-se um cessar-fogo, na “guerra de quatro dias”.

Sem embargo, a instabilidade permaneceu, pois grupos paramilitares e esquadrões da morte puseram as manguinhas de fora com suas armas. Washington, a seu turno, decidiu entrar em território hondurenho para enfrentar dispositivos a serviço do governo sandinista da Nicarágua. Era a famosa operação dos “contras”, com 15 mil rebeldes nicaraguenses. 

No entanto, não significou tranquilidade. O fogo cruzado dos países ao lado e os interesses de Tio Sam não permitiram a paz. Internamente, proibiu-se a reeleição de presidentes, depois de décadas de governos corruptos. O que acontece são cenas do atual capítulo.

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