Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

João e outros Batistas

05/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:23

No mês sexto, das passadas festas juninas, alguém perguntou: o São João reverenciado é o Batista ou o Evangelista? Muitos não souberam responder, porque não se tinham preocupado em identificar o fato na história ou nos livros sagrados do cristianismo. O mais indicado era comemorar o 24 de junho, e assim se fazia no Brasil por tradição, desde a colonização.

Dúvida, contudo, não há. João, que recebera o apelido de Batista, foi quem preparou o caminho de Jesus e o batizou no rio Jordão e seu nome significa “Deus é propício”. Naquele dia, há dois milênios, João disse: “eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo”, e sobre o autor do batismo, Jesus declarou: “jamais surgiu entre os nascidos de mulher alguém maior do que João Batista”. 

O nascimento de João, aliás, foi saudado com uma fogueira em família, como combinado entre Maria, mãe de Jesus, e Isabel, sua prima e mãe de João Batista, ampliado o costume a todo o mundo cristão e a nossa época. Batista é, assim, quem prega e batiza, mas no Brasil atual o nome serve também a pessoas não santas. Basta conferir- se na mídia.

Entre os novos Batistas está, por exemplo, Eike, que no dizer de Élio Gaspari, “exercitava a superioridade dos poderosos”. Emprestou o seu jatinho Legacy a Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de janeiro, para que ele chegasse a tempo a um resort na Bahia para a festa de aniversário de seu amigo Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, explicando: “sou livre para selecionar minhas amizades... contribuir para campanhas políticas...”. 

Eike Batista se entregou à Polícia Federal, esteve preso e declarou: “é hora de passar as coisas a limpo”. Quanto a Joesley, esteve ou está internado em hospital de São Paulo. Problema de coluna? 

O surgimento em cena do personagem Joesley Batista – outro com o sobrenome – e Wesley, irmão e igualmente Batista, foi uma surpresa para os brasileiros que não sabiam das fabulosas façanhas do grupo, formado a partir de Goiás.

O assunto ganhou dimensão nacional quando se publicou que o presidente Temer usara um avião da JBS, presidida por Joesley, para levar a família para alguns dias de férias na Bahia. Revelou-se que as ligações das empresas do grupo dos Batistas com figurões da República eram de arrepiar. 

Até o Aécio solicitou empréstimo e deu no bolo que aí está... e queimou no forno de Brasília. O Joesley relatou que pagou propina para beneficiar-se de operações e operação junto ao BNDES nos governos dos antecessores de Temer. Os três presidentes declaram que as acusações não têm provas e tudo negam, como não poderia deixar de ser.

No meio do imbróglio, surge um coronel em São Paulo, pertencente ao grupo mais ligado a Temer, que receberia, segundo denúncia, dinheiro para obras em propriedades de familiares do ex-vice-presidente. É um Cel. Batista, sobre o qual também pouco se conhece, por enquanto.

Aí, voltamos ao Imersor, o João Batista, dos primórdios do cristianismo. Ele considerava de especial valia perante Deus se tornar público o arrependimento e a mudança de atitudes das pessoas.

No Brasil, contudo, parece prevalecer fenômeno registrado por Stanislaw Ponte Preta: “a prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do subdesenvolvimento”.

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