Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Junto aos muros do Kremlin

15/09/2016 às 20:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:51

Suponho que as maiores editoras do mundo estejam programando publicações especiais para 2017. Não se ignora que, no ano que vem, se estará registrando o centenário da revolução comunista na Rússia, que mudou profundamente o modo de pensar, sentir e viver, qualquer que seja a posição política do homem, em que país esteja.

Do baú das casas fabricantes de livros, sairão sem dúvida obras importantes. Perceber-se-á que a história não morreu e que, faz um século, começava-se uma experiência singularíssima, depois de uma revolução que abalou a Rússia tzarista e geraria novos conflitos.

Sem dúvida, haverá novas edições de “Dez dias que abalaram o mundo” e das filmotecas sairão novamente para exibição películas que retratam o antes, o então e o futuro da Rússia, depois da implantação do regime bolchevista no espaço deixado por Nicolau II e Kerensky.

Quando a Global lançou o livro-reportagem de John Reed, posterior ao “México Rebelde”, os editores advertiram que o relato não perdera nada do interesse e atualidade. Isso foi em 1978, há praticamente 40 anos. A afirmação tinha sentido: permanecia, como permanece, a importância dos acontecimentos relatados.

O próprio Lênin comentou: “É uma obra que eu gostaria de ver publicada para outras línguas, pois traça um quadro exato e extraordinariamente vivo dos acontecimentos que tão grande importância tiveram para a compreensão da Revolução Proletária e da Ditadura do Proletariado. Em nossos dias, essas questões são objeto de discussões generalizadas, mas, antes de se repelirem as ideias que representam, torna-se necessário que se saiba a real significação do partido que se vai tomar”.

Neste segundo decênio do século XXI, já se tem condições para uma avaliação do que aconteceu no mundo depois da Revolução, merecedora de encômios veementes de inúmeros e de críticas acerbas de outros. De todo modo, foram décadas decorridas e, queiramos ou não, já se pode julgar os fatos, ainda que erroneamente. Não se considerará somente a obra do jornalista americano, um comunista convicto, mas o sistema de governo que se procurou impor ao mundo desde 1917. O que se escreveu e se divulgou desde aquela época é indicado nesta hora, embora cinema, o rádio, a televisão, todas as modernas formas de comunicação possam, enfim, contribuir para um julgamento menos apaixonado dos acontecimentos e personagens.

Enquanto em Belo Horizonte se esforçava o governo e a sociedade para construir uma casa para atendimento às mães que aqui teriam seus filhos, na Maternidade Hilda Brandão, em 1916, nas ruas das grandes cidades russas, com ênfase São Petersburgo, tratava-se de oferecer ao povo, sobretudo aos operários e camponeses, novas maneiras de viver e dirigir os destinos nacionais. Até mais do que isso. O próprio Reed confessou.“Este livro é um pedaço da História, como a vi. Não pretendo fazer senão um relato detalhado da Revolução de Outubro, isto é, daqueles dias em que os bolcheviques, à frente dos operários e soldados da Rússia, apoderam-se do poder e o puseram nas mãos dos soviets”.

O volume não responde a todas as perguntas, e Krupskaia, mulher de Lênin, foi mais longe, lembrando que o autor estava indissoluvelmente ligado à Revolução Russa, que se lhe tornara cara e próxima Contaminado pelo tifo, Reed morreu e repousa na base do Muro Vermelho, do Kremlin.

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