Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Madame Curie em Belô

28/12/2021 às 18:18.
Atualizado em 29/12/2021 às 00:38

O próximo ano assinala o bicentenário de Independência do Brasil. Até aí, não é novidade. Mas ainda em 2022 se registra o centenário de inauguração do Instituto do Radium, o primeiro das Américas, fato sobre o qual se fala e se escreveu tão pouco. 

Desde 1919, o crescimento dos casos de câncer assustava, e médicos na capital sentiram que havia necessidade de agir. Assim, graças a esses profissionais e à dedicação de outros como Borges da Costa, levou a um notável esforço pela criação do Instituto do Câncer e Radium, com apoio do presidente de Minas, Artur Bernardes.

A ideia floresceu, Minas Gerais à frente de todo o continente. Em 7 de setembro de 1922, inaugurou-se o empreendimento, para o qual a Santa Casa da capital produziu uma peça expositiva ainda não editada. 

Na Europa, Madame Curie se interessou à época, pois parecia inimaginável que numa cidade com menos de 25 anos como capital, se tivesse concretizado uma façanha dessa dimensão científica e médica. Em 1926, Marie Sklodowska Curie desembarcou aqui, recebida quase com veneração pelos colegas, visitou o Instituto, fez conferência na Faculdade.

Pedro Nava, médico e hoje memorialista celebrado, era universitário e assistiu “com olhos embasados à lição com que ela nos honrou”. Anotou, emocionado: “Essa mulher fabulosa, nos vinte, pelos seus cinquenta para sessenta e já era detentora duas vezes do Prêmio Nobel. Era pequena de estatura, andava vestida de negro, saia arrastando, costume sebento. Apresentou-se sempre com a mesma roupa na capital de Minas, mal penteada, mãos vermelhas maltratadas e vi suas botinas de salto baixo tendo abotoadas só o botão de cima”.

Entretanto: “Ensinando, transfigurava-se e, às suas palavras, nosso anfiteatro iluminou-se mais – como se passassem por suas paredes raios urânicos, centelhas radioativas de tório e faíscas ferromagnéticas”.

Nascida em Varsóvia, Polônia, em 7 de novembro de 1867, órfã de mãe aos 10 anos, quando sua pátria fazia parte da Rússia czarista, venceu muitos desafios e dificuldades, formou-se em Medicina e se transferiu para Paris, ingressando na Sorbonne. Graduou-se em Medicina, depois em Física e Matemática, iniciando experiências em um porão cedido pela instituição. Conquistou duas vezes o Nobel e se consagrou como único cientista a receber dois desses Prêmios, sendo a primeira mulher a tornar-se professor na Sorbonne. Faleceu em 1934, oito anos após visitar Belo Horizonte.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por