Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Mineiro vê guerra no Sudão

Publicado em 11/11/2016 às 20:07.Atualizado em 15/11/2021 às 21:37.

Ocupante da cadeira número 8 da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares tem uma biografia robusta e, agora, uma atuação brilhante como reitor da Universidade Livre da Casa de Vivaldi Moreira. Neste ano agonizante, o acadêmico publicou dois livros, um dos quais “Entre o Poder e o Direito: O Conselho de Segurança e a Corte Penal Internacional na situação do Sudão”, em espanhol. 

O autor fez Mestrado em Direito Internacional pela UFMG e recebe o título de Estudos Avançados de Direito Internacional e Relações Internacionais pela Universidade Autônoma de Madrid, de modo que dispõe, como demonstra de todas as condições para dissertar sobre o tema. Seu trabalho contém a síntese dos seus estudos na Espanha, entre 2007 e 2009, sob orientação do professor Antônio Remiro Brotóns. O volume lançado reproduz o texto submetido a julgamento dos examinadores ibéricos. 

Razões diversas levaram o autor ao problema do Sudão, maior nação da África, que viveu uma guerra civil, que se estendeu até 2005. Durante o período, um novo movimento separatista eclodiu em 2003, na província de Darfur, que sofreu gravíssima crise humanitária. As duas rebeliões concentravam o protesto das populações do Sul contra sua marginalização, pois o Norte, com capital em Cartum, usufruía dos bens nacionais relevantes.

Compreende-se: o deserto da Líbia e da Núbia e o clima árido predominam no Norte, quanto abaixo está coberto por savanas e florestas tropicais. A bacia do Nilo assegura energia elétrica e irrigação das plantações. A maioria da população se dedica à agricultura de subsistência e à pecuária, mas o petróleo é o principal produto de exportação. 

Conflitos não chegavam ao fim. A manutenção da população dependia de suprimentos enviados gratuitamente por agências internacionais. Depois que os chefes beligerantes separavam o melhor para si mesmos, o pouco restante era distribuído aos necessitados, como sublinha Matthew White. Combates levaram o segmento não árabe de Darfur a erradicar-se, amontoando-se em campos de refugiados. A ONU pressionava para intervir por meio de uma força de paz, mas o governo do Sudão rejeitava, alegando violação da soberania do país.

Finalmente as lideranças aceitaram a missão da ONU e da União Africana, composta por 22 mil soldados e policiais, todos africanos. As primeiras tropas chegaram no início de 2008, diminuindo a violência. Para o secretário geral da ONU, o Sudão viveu onze dos transcorridos 48 anos de independência em permanentes conflitos civis. Para Francis M. Deng, diplomata sudanês, a beligerância no país é um tema de identidade nacional e étnica, afastando-se a hipótese de uma guerra religiosa entre muçulmanos e não muçulmanos. 

Para Deng, porém, os sudaneses do privilegiado norte do país, política e economicamente dominantes, consideram-se unicamente árabes, menosprezando suas características africanas e lutando para impor a identidade árabe a todo o território, como está claro no livro de Faria Tavares, valioso para se conhecer aquele pedaço de mundo, de que se tem frequentes, tristes e novas noticias pela mídia.

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