Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Não passarão, versão brasileira

01/04/2016 às 18:01.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:44

O ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, fiel à presidente e na luta contra o impeachment em tramitação no Congresso Nacional, há dias pronunciou discurso no Palácio do Planalto em defesa do governo e contra o processo em debate na respectiva Comissão. Agora como Advogado-Geral da União e suficientemente abastecido pelas mais novas informações do Planalto e da Alvorada (algumas certamente nunca dantes sabidas), Cardoso usou a expressão “Não passará, não passará”, para demonstrar a inabalável decisão da Presidência de não voltar atrás nos rumos já definidos.

O “Não passará, não passará” ecoou no edifício projetado por Niemeyer com múltipla sonoridade, sob aplausos de quem para ali se deslocara. Mas preponderante parcela dos ouvintes e testemunhas sequer saberia que as duas palavras valiam como um grito de guerra, como aquele que La Pasionaria repetiu na guerra civil espanhola, que convulsionou o país ibérico de 1936 a 1939. 

La Pasionaria, cognome adotado por Isidora Dolores Ibárruri Gomez, nasceu em Gallarda, localidade da província de Biscaia, no País Basco, em 9 de dezembro de 1895. Casou-se aos 21 anos com o socialista Julián Ruiz, e no mesmo ano veio a filha Ester, falecida muito pequena. Começa, então, Dolores a militância comunista, assinando artigos no jornal PCE Mundo Obrero, já usando o pseudônimo que a acompanhou ao longo da vida.

Em abril de 1920, também, filia-se ao Partido Comunista Espanhol, transferindo-se ao Partido Comunista de Espanha, que seguiria pelo resto da vida e que chegou a presidir. Em 1920, nasceu o filho Rubén e, três anos após, vieram trigêmeas, das quais só uma sobreviveu: Amaya 

Dolores foi até certo ponto pouco Dolores e muito La Passionaria, sempre no Partido Comunista. Na guerra civil, incentivou a luta contra as tropas do General Franco, já separada do Mario, o segundo marido, que não se importava com o lar. Para ele, só a política e o partido interessava. Com argumento a suas posições, ensinava: “Para viver de rodilha, es mejor morir de pié! No pasarán”, ou seja: “Para vivir de joelhos, é melhor morrer de pé! Não passarão”.

Mas o vitorioso foi Franco e La Pasionaria. Dolores refugiou-se na União Soviética, só voltando após a morte do generalíssimo, em 1977. Elegeu-se à Câmara dos Deputados e se manteve líder honorária do Partido Comunista da Espanha até a morte, em 1988, quando também caiu o muro de Berlim. Ela tinha 94 anos. 

A frase “No Pasarán” é atribuída a um subordinado do marechal francês Petain, herói da Primeira Grande Guerra, condenado à prisão perpétua por sua submissão ao Terceiro Reich após a segunda. Embora o apelo dramático de “Non pasarán”, a verdade histórica é que Franco passou, venceu e governou ditatorialmente por longos anos.
O que quis dizer Cardoso, na versão brasileira de hoje? Quem não passará? O impedimento? É um apelo diante de circunstâncias adversas ou um grito de guerra?

O que quis dizer Cardoso, na versão brasileira de hoje? Quem não passará? O impedimento?
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