Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Nação com N maiúsculo

23/08/2016 às 19:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:31

Desde que me entendo por gente, ouço a respeito da reforma política, sem a qual a nação não encontrará seu melhor rumo e sua gente não alcançará a felicidade possível. Com o fim do período populista na gestão nacional, crê-se mais uma vez que se abrirão perspectivas à ansiosamente esperada reforma, tentada sempre e nunca alcançada, vendida a granel no mercado dos interesses subalternos.

Percebem, os brasileiros que sentem e pensam, que estamos no ápice de uma crise, que só não evoluiu mais tragicamente porque o povo do país, que mantém uma guerra cotidiana para sobreviver (apenas amenizada pela efemeridade das vitórias esportivas), não deseja a violência máxima entre irmãos.

A nação acompanha envergonhada a interminada sucessão de escândalos, que alcançou o cume com a divulgação dos casos apurados ou em apuração pela Lava Jato. O conceituado advogado José Anchieta da Silva argumenta sobre as razões maiores da mudança pretendida, que tem de ser ampla e profunda, sem os atropelos e empecilhos ditados por razões malsãs. 

Para ele, além de outras reformas como a tributária, previdenciária e sindical, o que se busca é um “projeto que visa consolidar nossa democracia. Não pode ser trabalho de gabinete”. Aí, a receita... Para quê? Para tornar “mais acreditados os poderes Legislativo e Executivo, fazendo-os representativos. É caminho pavimentado para uma nova organização do Estado, valorizando, também, o poder Judiciário, que continua, do ponto de vista orçamentário, refém do poder Executivo”.

No pico de respeito do país está o Judiciário, que tampouco escapa às desconfianças de um povo que não se acostuma e nem quer a troca de favores, benesses e gentilezas. É preciso mudar, e mudar muito. 

As razões, Anchieta explica: 

“A Nação se envergonha, a cada noticiário, das novas revelações, dando conta da corrupção que campeia, envolvendo políticos e agentes públicos. O exercício de cargos ou funções públicos, obtidos a partir do voto ou da outorga de confiança, corresponde a um sacerdócio e a população não pode perder a crença no Estado”. 

Não pode, mas estamos conscientes de que nos mantemos à beira do precipício, a despeito de medidas, só paliativas, experimentadas.

Passo a palavra, novamente, a Anchieta. “Toda desonestidade com o dinheiro público corrói as raízes de instituições que não podem cair no descrédito. Quanto à corrupção, o texto legal por vir deve ser implacável, de modo a não permitir ambiguidades que criem dificuldade ao poder Judiciário no julgamento de casos concretos”. 

Ainda: “A reforma política deverá levar para o âmbito dos partidos políticos a séria questão dos comportamentos de seus afiliados, barrando candidaturas comprometidas com falcatruas, resolvendo-se, no foro partidário, a tormentosa questão das fichas dos candidatos”.

Estamos às vésperas de uma nova eleição, a primeira municipal após a Lava Jato: “A reforma política, para ser duradoura, não pode perder a oportunidade de exigir a pregação permanente da bandeira da ética na política”. O N da Nação, enfim merece ser escrito com maiúscula.

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