Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Nunca, novamente

15/10/2016 às 18:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:14

Em 29 de setembro, o povo de Israel prestou as últimas homenagens a Shimon Peres, com a presença das maiores lideranças do mundo, com exceção do segmento árabe, de que havia apenas Mahamud Abbas. Reconhecido internacionalmente, Shimon foi distinguido com o Prêmio Nobel da Paz e, diante da urna funerária, o presidente Obama se inclinou na Esplanada Knesset, isto é, do Parlamento, de Israel, em Jerusalém.

Obama afirmou que o sonho de paz de Peres jamais se concretizou, mas ele deu a maior parte de sua vida para torná-lo realidade. Concluiu com uma frase em hebraico: “Toda raba haver lakar”, ou seja: “Obrigado, grande amigo”.

Bill Clinton, que assistira ao histórico aperto de mãos, em 1993, entre os inimigos israelense e árabe, observou: Peres “sabia exatamente o que fazia ao ser exageradamente otimista”. Emocionou-se o ex-presidente dos Estados Unidos, porque também, há 21 anos, ali ele estivera para sepultar outro amigo e grande lutador pela paz Yitzhak Rabin, assassinado por um extremista judeu em 1995. Shimon tinha 93 anos, foi uma das 6 milhões de vítimas do Holocausto e viu seu pai ser queimado vivo pelos nazistas num campo de extermínio.

Peres foi o segundo Prêmio Nobel da paz falecido este ano. Em julho, aos 87 anos, falecera nos Estados Unidos Elie Wiesel, romeno, escritor e sobrevivente do Holocausto. Com o código A-7713 em seu braço, ele registrou: “Eu jamais me esquecerei daquelas chamas que consumiram minha fé para sempre. Nunca me esquecerei do silêncio noturno, que me privou, por toda a eternidade, do desejo de viver. Nunca me esquecerei dos momentos que assassinaram o meu Deus e minha alma e transformaram meus sonhos em poeira. Nunca me esquecerei dessas coisas, mesmo que eu seja condenado pelo tempo que Deus quiser”. 

Elie Wiesel viu também quando viu a morte do pai no inferno do campo de extermínio de Buchenwald. Tinha 17 anos quando foi libertado daquele local de horror, tornando-se depois porta-voz mundial do Holocausto. Ao atribuir-lhe o Nobel da Paz, o respectivo Comitê enfatizou que ele fora “um dos mais importantes líderes espirituais e guias em uma era em que a violência, a repressão e o racismo continuam a caracterizar o mundo”.

Eis a maior mensagem que estes homens que sofreram em vida, em corpo e alma, deixaram: a advertência de que a paz ainda não foi alcançada, não no Oriente Médio, em que multidões são consumidas pela incompreensão, insensibilidade e desprezo à vida dos semelhantes.

Tem-se ignorado as lições de reconciliação e dignidade humana. Na justificação do Nobel, foi dito: “É baseada em sua própria experiência pessoal (e a referência pode ser generalizada entre os que partiram e os sobreviventes que escasseiam) de humilhação total e de absoluto desprezo pela humanidade, mostrados nos campos da morte de Hitler”, onde faleceram, além do pai de Wiesel, sua mãe Sarah e a irmã Tzipora. 

Pode-se repetir o que Shimon Peres afirmou de Wiesel: “Ele deixou uma marca na humanidade, através da preservação e da manutenção do legado do Holocausto e ao legar a mensagem de paz e respeito entre os povos. Ele suportou as mais graves atrocidades da humanidade – sobreviveu a elas e dedicou sua vida a transmitir a mensagem Nunca Novamente”.

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