Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O depoimento de Juscelino

21/08/2016 às 19:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:29

A coerção a que foi submetido o ex-presidente Luiz Inácio, em São Paulo, ao ser levado a depor em dependência da Aeronáutica, provocou grande alvoroço no país este ano e recebeu manifestações de toda natureza. Possivelmente poderá o fato repetir-se, considerando a ação ininterrupta de membros do Ministério Público em São Paulo, dos magistrados em atividade em Curitiba ou as investigações da Polícia Federal. Os motivos são tão sabidos que dispensam minuciosas explicações.

O que despertou, contudo, a atenção foi o comentário feito, em março, pelo “Jornal de Brasília”, pelo jornalista Gilberto Amaral, principal locutor da Rádio Nacional, da capital federal, à época do governo Goulart.

Amaral recorda que, após a queda de Jango, “vieram as cassações de mandatos e, para alguns políticos, igualmente as perseguições sem sentido”. Um dos alvos era Juscelino, sempre em evidência por seu comportamento liberal, por seu destemor, por sua popularidade e pelo reconhecimento do que fizera no país em cinco anos.

Kubitschek foi intimado pela Auditoria Militar do Rio de Janeiro a depor num inquérito instaurado para apurar genericamente aquilo que a imprensa da oposição denominava de “a roubalheira na construção de Brasília”. Aconteceu, todavia, o que talvez não se pudesse esperar.

O ex-presidente recebeu a comunicação por escrito e, no dia e hora agendados, foi sozinho depor no Ministério da Guerra, o enorme prédio construído ao lado da Estação Central do Brasil, na avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. Era, como é, local de grande circulação de pessoas, mas Juscelino não se importou.

Não houve ninguém a escoltá-lo ou qualquer demonstração de força. O ex-presidente entrou no edifício sorrindo, como era de seu feitio e maneira de ser, “de cabeça erguida e confiante. Toda a imprensa registrou o acontecimento, como agora se fez com o ex-presidente Lula”.

Apenas a imprensa o aguardava, quis ouvi-lo e nada foi negado em termos de informações. Tudo foi divulgado. Transcorrido o tempo, arquivou-se o inquérito policial-militar. Nonô, o filho de dona Júlia, menino pobre de Diamantina, continuou querido pelos brasileiros. Cinquenta anos passados, pode-se constatar, Juscelino permaneceu incólume e amado pelos brasileiros.

Assim se manteve até o trágico acidente na Rodovia Presidente Dutra, em um mês macabro de agosto. Gilberto Amaral declarou que recordou e registrava os fatos para que os jovens possam aprender a conhecer episódios que a própria história embaçou.

A corrupção está presente em todos os lugares do mundo. As pessoas hoje já identificam quem são e onde os corruptos estão. Dezenas de operações da Polícia Federal, nos últimos anos, em especial a Lava Jato, ajudaram nas conclusões. Pesquisa de um grupo de escritórios de advocacia em 19 países mostra que 93% dos nossos executivos conhecem uma empresa ou indivíduo corrupto.

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