Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O encantamento dos rios

Publicado em 14/09/2017 às 16:29.Atualizado em 15/11/2021 às 10:34.

Fim de semana preocupante em setembro. Bombas lá e cá. O presidente Putin, da Rússia, adverte que o mundo está “à beira de um conflito de larga escala”. Para ele, é um erro os EUA “pressionarem Pyongyang com sanções sobre seu programa de míssil nuclear”. Reação militar à Coreia provocaria “uma catástrofe planetária”. Com o alerta, Moscou e Washington se contrapõem. Do lado de cá, a manchete é outra: “Nova bomba de Janot atinge STF e Procuradoria-Geral da República”, referindo-se a “crimes gravíssimos da JBS, cuja delação poderia ser anulada”.

Véspera de feriadão do dia 7, Dia de São Zacarias e do Alfaiate, de inquietação pela tensa situação na Ásia e das devastadoras notícias sobre os escândalos que assolam o país. Uma pletora de informações sobre a ousadia dos assaltantes em todas as regiões, ocupando espaços ponderáveis na mídia. O fato se repete, em todos os mesmos estados, no Sudeste com ênfase no Rio de Janeiro e São Paulo. Assusta. Não resta dúvida de que os bandidos de todas as facções criminosas não dão sossego a Minas, cujas cidades menores são atacadas várias vezes por semana. 

Li nos jornais e vi pela televisão a ação de toda essa cambada. No dia 5, pela manhã, em torno de 10h40, dez assaltantes em quatro carros e uma moto interceptaram um carro-forte e o explodiram. Houve intensa troca de tiros, numa rodovia perto de Jaboticabal, dinâmica cidade em que é professora a historiadora Zina Bellodi, de prestigiada família de imigrantes italianos. Houve um cerco na região de Sertãozinho, Barrinha e Jaboticabal, onde há grande produção de cana. A empresa proprietária do veículo assaltado “não comentou sobre os valores transportados”. Adiantaria? 

Na minha região natal, o dia começou com o aviso da 98 FM, de Montes Claros. Observatório Sismológico de Brasília confirmou o registro de tremor de terra, quando já se abriam as portas do comércio: intensidade de 2,1 graus. A população obviamente se assustou e quis saber mais. A cidade norte-mineira tivera até então oito tremores em 2017, dos quais cinco só no dia 27 de abril. Um jornalista resumiu: “Uma pancada surda. Solitária. Rasa, rápida. Como se alguma coisa pesada caísse no centro da Terra. Exatamente às 6h10. A terra tremeu”. 

Como se fora pouco, outra informação preocupante: o rio Congonhas, em Itacambira, está morrendo, podendo inviabilizar seu aproveitamento até para consumo humano. O técnico no assunto, José Ponciano Neto, acrescentou: destaca-se na bacia do rio a silvicultura do eucalipto e do pinos, enquanto no passado derrubaram-se as matas nativas para produzir carvão. Várias nascentes já secaram e outras agonizam. 

No dia 6, nova medição de vazão. Conclusão: “a situação é das piores. Como no ano passado, a corrente vai secar. Sua salvação depende dos homens e estes não são como os descritos por Guimarães Rosa que “ficam encantados”. Eles morrem de fato e podem levar consigo gerações, virando notícias nos veículos de comunicação. As futuras gerações se limitarão a comentar... 

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