Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O ex-presidente preso

09/08/2016 às 20:13.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:16

Amaury Brandão, lá de Pouso Alegre, há muito tempo, lembrou que o primeiro presidente de nossa “república rocambolesca” a ser preso, foi Hermes da Fonseca, por ordem de Epitácio Pessoa. Para Leôncio Basbaum, os primeiros anos da nova forma de governo se transformaram em “verdadeira comédia de absurdos, que começou com a própria proclamação”.

O primeiro desses absurdos: existia um Partido Republicano, mas não foi este que proclamou a República – “Quem o fez foi o exército que, em seu conjunto, não era republicano. Este o segundo dos absurdos”. 

O “Correio da Manhã”, em 15 de novembro de 1914, enfatizava: o Tesouro Nacional, “exausto e raspado até o fundo, se mantém, dia a dia, das migalhas de uma arrecadação decrescente, de experientes humilhantes e até de indelicadezas criminosas”.

Mais adiante afirmava: “O partido do presidente, vivendo do bafejo do governo, do qual tirava as vantagens mais necessárias à sua existência e ao exercício de sua força como agremiação poderosa, não hesitava em querer os maiores absurdos, nem o chefe do Estado em concedê-los”.

Os destinos do país se tornaram “joguete de uma meia dúzia”, não possuindo a nação “verdadeiramente um governo, mais um diretório de facção política, que a explora em benefício dos seus, sem olhar aos grandes interesses gerais”. Oitavo presidente do Brasil, de 1910 a 1914, Hermes fora ministro do Superior Tribunal Militar e Ministro da Guerra. Sobrinho do marechal Deodoro, proclamador da República, e gaúcho de São Gabriel, bacharel em Ciências e Letras, era um positivista não ortodoxo. Durante a revolta da esquadra, em 1893, comandou a defesa do governo Floriano, mas reprimiu a movimento dos marinheiros contra os castigos na Marinha, também a Revolta da Vacina, em 1904.

Enfrentou um período conturbado da história republicana. Quando na chefia do governo, perdeu a esposa Orsina, mas se casou em seguida com Nair de Tefé Von Hoonholtz, filha do Barão de Tefé, em cerimônia no Palácio Rio Negro, em Petrópolis. Um dos dois únicos militares a chegar ao Catete de forma direta e pelo voto (o outro, Dutra), foi o primeiro a usar a faixa presidencial. 

Bem mais jovem, Nair era mulher de novas ideias, feminista, aproximou-se de segmentos populares, introduziu o “maxixe”, um novo ritmo e dança nos salões do Catete, causando reboliço nos meios sociais, culturais e artísticos. Caricaturista, publicava suas criações nos jornais cariocas. 

Terminado o quatriênio, Hermes elegeu-se à presidência do Clube Militar em 1921 e envolveu-se na revolta militar do ano seguinte. Recusou auxílio vitalício, sendo preso em julho do ano seguinte no encouraçado “Floriano”. Seu filho e biógrafo anotou que, “após 14 longos e penosos meses”, voltou à liberdade, e viajou à Europa.

De retorno a Petrópolis, sofreu o primeiro ataque cardíaco. No segundo, em 9 de setembro de 1923, duas palavras finais: “Ai, que dor!”. Sua esposa recebeu ainda uma intimação do Estado maior do Exército para prestar depoimento, porém não atendeu. O Barão dispensou honras militares e foi sepultado à paisana. 

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