Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O Grande Sertão

Publicado em 22/03/2022 às 06:00.

Chegou-me “Reflexões sobre o Brasil”, novo livro de Patrus Ananias, que a nação conhece como deputado federal por mais de um mandato, ministro à época do PT na presidência. O tempo agora é outro, mas as ideias merecem respeito e análise, porque o parlamentar se esforça por sobrepor-se aos interesses menores da sociedade. É um brasileiro autêntico, disposto a participar da condução do homem deste país e pelo caminho mais justo e a melhor destinação. 

No novo livro, expõe pensamentos e sentimentos que merecem atenção do leitor também vocacionado para o bem desta nação e do homem que aqui nasceu ou a habita. Natural de Bocaiúva, como outros ilustres mineiros, gosta de dizer que é da “Grande Bocaiúva”, fingindo disputar grandeza com a “Grande Montes Claros", a mais importante cidade da região.

O cidadão ama o sertão. Demonstra-o ao dedicar o começo do livro ao vocábulo: “Sertão – a forte palavra”, evocando Guimarães Rosa, a quem rende valiosa homenagem. “A emoção e o encantamento que sentimos depois de uma boa releitura do “Grande Sertão: Veredas” não nos permitem fugir ao lugar comum, repetir o que tantos já disseram e de forma mais elegante, o romance sapiencial de Guimarães Rosa é uma obra oceânica, inesgotável”.

Diante disso, o autor procura localizar o conteúdo do romance, até certo ponto ficção, até outra realidade. Quem já se deu ao trabalho/prazer de ler a obra de Rosa, sempre se indaga sobre o cenário em que se movem os protagonistas. Patrus observa:

“O cenário inaugural do “Grande Sertão: Veredas”, onde se desenvolvem os acontecimentos vividos e narrados por Riobaldo Tatarana, é uma realidade muito nossa, profundamente brasileira, e tem como referência fundamental o Rio São Francisco, que de “tão grande se compadece”, símbolo e expressão concreta da unidade nacional. 

O espaço territorial, tão bem mapeado por Alan Viggiano no seu livro “Itinerário de Riobaldo Tatarana”, é uma região que compreende o centro-norte de Minas, integrando, além do São Francisco, o Vale do Jequitinhonha, o Sul da Bahia, e o centro-leste de Goiás e Tocantins, incluindo os terrenos do Planalto Central sobre os quais se ergueu a Capital do Brasil. Essa região forma um magnífico ecossistema, hoje muito machucado, exaurido e seriamente ameaçado de extinção: o cerrado. E forma, também, o pano de fundo do romance”.

No Brasil, sabe-se pouco sobre o sertão, mesmo o mineiro, bem mais perto das capitais nacionais. É um mal sem reparo até hoje, daí a ausência do Estado e da lei. O próprio personagem de Rosa declara: “O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é para os campos gerais... Ah, lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; é onde vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade”.

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