Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O prejuízo da Olimpíada

16/08/2016 às 19:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:24

Não demora e terminam os Jogos Olímpicos de 2016, algo realmente fantástico diante das dificuldades que passa o mundo e, particularmente, o país que os sedia. Coubertin, o nobre francês que teve a ideia de recomeçar as disputas da época do apogeu helênico, poderia julgar-se feliz e realizado com o espetáculo de abertura das competições, que a televisão mostrou, em vivo e em cores, como dizem os portugueses.

No entanto, em contraponto à beleza a que se assistiu, não passou ignorada a sucessão de problemas que, à margem, houve. Refiro-me à demonstração de pobreza, de miséria, até de violência, que, no período, estigmatizou a bem elaborada programação. Não foi invenção da Imprensa o registro de que se revelou ao planeta. Há um outro Brasil: o das enormes favelas e dos grupos criminosos e dos oportunistas, organizados para ilicitamente explorar o evento.

Afirmava-se que a Olimpíada não resultaria em prejuízo para o Brasil, consequentemente para os brasileiros. De antemão, conhecia-se que não se tratava rigorosamente de verdade, porque se tinha muito recente e viva a experiência desastrosa da Copa do Mundo. Nela, houve muito mais do que elevados prejuízos para os cofres públicos, apagando a esperança de, em contrapartida, cumprir-se um programa de obras públicas reclamadas há décadas. O dinheiro tomou outra destinação. 

Com os olhos grudados nas televisões, nas quais os escândalos da Lava Jato passaram a plano inferior à Olimpíada, não se tomou conhecimento de uma decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro. Ela proibia que a União e o município fizessem qualquer repasse de verba pública para o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, até que “seja dada ampla publicidade de todas as receitas e despesas”. 

E ainda: caso algum repasse tenha sido feito, o Comitê Rio 2016 fica impedido de usar a verba para pagamento a fornecedores. O Comitê está também obrigado a justificar a necessidade de uso dessas verbas para organização e realização dos jogos.

A grave decisão foi de uma juíza – Márcia Maria Nunes de Barros, de plantão no Rio de Janeiro, e decorreu de pedido do Ministério Público Federal, em 2 de julho –, que exigia transparência nas contas das Olimpíadas. O MPF formalizou a solicitação ao Comitê, dando-lhe 20 dias para a abertura da caixa preta. A Comissão Organizadora se negou fazê-lo, todavia, sob alegação de que, sendo ente privado, não havia obrigação legal de atender. 

A sua vez, a Procuradoria argumenta que a exposição da contabilidade é imprescindível, até porque estabelecida no contrato da Rio 2016 com o COI. No final da novela, quem terá de assumir o déficit do evento serão a União e os poderes públicos.

A juíza observa que dificilmente o prejuízo dos Jogos será recuperado “por quaisquer dos órgãos públicos, que se encontram em difícil situação financeira, como é de conhecimento geral”. 

A belezura da Olimpíada, como se vê, contrasta com a feiura da contabilidade. No final, mais uma vez, o cidadão ficará coagido a quitar o déficit, como se não estivéssemos na crista de uma imensa crise. Este, sim, será um grande golpe contra a bolsa do brasileiro, que por sinal sequer mais bolsa tem.

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