Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O tempo do homem

11/05/2016 às 17:03.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:23

O título pode parecer estanho. De fato, o tempo pode – ou deverá – ser do homem. Mas o novo livro de Ánderson Braga Horta, “Tiempo del hombre”, editado por Maribelina, Casa del Poeta Peruano, de Lima, Peru, desvenda, até onde possível, os tempos do homem, nas inúmeras variações da existência, em seus múltiplos aspectos  de entendimento e pensamento.

Mineiro de Carangola, jornalista, professor, advogado, Ánderson é poeta, e vive o ser humano em sua integralidade. Com 70 anos de experiência nas letras, seu livro, em edição bilíngue, sai com selo do país irmão da América do Sul e com assinatura de tradutores prestigiosos neste nosso mundo, ou alhures, no velho.

Jose Guilhermo Vargas, presidente-fundador da Casa del Poeta Peruano e distinguido com o título de Honra ao Mérito do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, observa que o autor ri, pensa, julga, trabalha. Daí, estarem selecionados agora poemas de outras épocas, quando o ânimo do autor podia ser outro, mas tangido pelos mesmos ideais e ideias. A publicação enriquece as línguas de Camões e Cervantes, cujo quarto centenário de morte ora se registra.

A pergunta essencial: “Não interrogues o poeta. Que sabe o rio de suas águas? Bebamos o poema, esse caminho venturoso/e sacrificial, entre a rosa revelada e a rosa alquímica”.

Perguntas: “Que novas cores beberei? Que músicas fluirão no meu dorso? Que suaves, que pétreos tatos guardarei no olfato, no paladar, na pele, na retina? Eu continuarei. Adiante! Para onde, afinal? Que universo, que abismo, espera por meus pés na curva do infinito? Eu vou para onde ireis: para além, para o Enigma. Eu vou para onde vai o infinito da Vida”.

Em “Discurso em forma de poema”, atenção sobre o século em que estamos. As dúvidas, as dores, que aqui seguem sem as interrupções dos versos: “As cidades estão falidas, quanto maiores, mais expostas, à fúria das águas, quando chove, ou da estiagem, quando a seca expulsa do Nordeste – atenho-me ao mapa do meu país, milhares de desempregados ansiosos e infelizes.

Os estados estão falidos. As estradas estão falidas. Todas as nações, com o roubo, o sequestro, o assassínio, o estupro, a corrupção, a droga, a guerra. A Terra está falida, falido o Homem, com as doenças, o analfabetismo, a miséria, a fome, em extensão planetária, justo quando a tecnologia acena com os meios de dar saúde, instrução, educação e alimento a todos estes bilhões de bichos tão pequenos”. 

E o final não é alegro:

“Alvíssaras!/Por quê?/Chegamos ao fundo. Agora é tudo ou nada./Ou vestimos o abismo/ou, num esforço de fraternidade,/de revolta/de sonho,/alçamos voo!” No verso de Ánderson, a palavra mágica que também tocou o sentimento de Luther King: “Por Deus, eu tenho um sonho! E nesse sonho o Homem se levanta acima das contingências, acima do sigma, e do estigma, acima da fome e do estrume, acima da cor e do décor, acima do grotesco e do sublime, acima de todas as desagregações, acima de todas as ruínas. Eu tenho um sonho. E porque tenho um sonho, sou homem”.

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