Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Os abalos estão chegando

30/03/2016 às 20:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:42

O perigo passou a morar mais perto de todos nós, os do Sudeste brasileiro, em Belo Horizonte, por exemplo. Há dias, registraram-se tremores de terra em Sete Lagoas, a cerca de setenta quilômetros da capital, assim como em Pedro Leopoldo, Matozinhos, Capim Branco, Prudente de Morais e Confins.

Até recentemente, dizia-se que o Brasil era imune a abalos sísmicos, alinhando-se uma série de razões para tanta e tamanha bondade da natureza. Mas o tempo mudou, e muito. Assim, na região de Montes Claros, no Norte mineiro, repete-se a tremura da crosta terrestre, uma das quais matou uma criança em Caraíbas.

O sismólogo José Alberto Vivas Veloso escreveu e publicou, em 2014, livro dizendo a verdade, nova por aqui. Trata-se de “O terremoto que mexeu com o Brasil”. Centrado principalmente nos abalos que atingiram a cidade de João Câmara, no Rio Grande do Norte, focaliza com ênfase o de 30 de novembro de 1986, desastroso acontecimento que completará trinta aninhos. 

O autor não se resume a fatos recentes. Lembra que, sendo Pedro II interessado em tais fenômenos (aliás, o era nas ciências de um modo geral), determinou a primeira pesquisa nacional sismológica. A atenção cresceu, quando – em seu palácio de Petrópolis – bela e imperial cidade de difícil topografia, também se registrou o acontecimento.

O fato levou o imperador a descrever o caso, em minúcias, publicando a narrativa na revista britânica “Nature”. O sismólogo conterrâneo e coevo conta tudo isso e mais: “Meu livro mostra que não só existem terremotos no Brasil, como eles podem trazer problemas às pessoas e às cidades”. O principal abalo de João Câmara, com magnitude de 5.1, danificou mais de 4 mil construções e produziu 26 mil desabrigados.

Veloso fala de cátedra. Pesquisador aposentado pela Universidade de Brasília foi designado para manifestar-se. Declarou: “É uma experiência pessoal impactante chegar a uma região remota e explicar que aqueles abalos não são castigos de Deus ou coisa que o valha. Não dá para ser um cientista de sangue frio o tempo todo. Na incumbência de acompanhar sequências sísmicas com duração de dias e semanas no Rio Grande do Norte, no Ceará, em Pernambuco e em Minas Gerais, particularmente em cidades pequenas, percebi que logo surge uma afetividade entre o sismólogo e os habitantes locais. O técnico passa a ser referência para orientar a população. Aí a responsabilidade aumenta, porque você não está apenas registrando abalos de terra, mas lidando com a segurança e o bem-estar das pessoas”.

Abalos desse tamanho acontecem a cada cinco anos em algum lugar do Brasil. Onde? Ninguém sabe’. O que temos de fazer é continuar monitorando e estudando os novos tremores, porque eles continuarão acontecendo”. 

Assim, o aumento da frequência já bem perto da capital construída nos terrenos de Curral del Rey. Esperou-se mais de cem anos para identificar o problema que Aarão Reis não adivinhou.
 

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