Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Os campeões olímpicos

30/04/2016 às 09:09.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:12

Com euforia (?) pela realização dos Jogos Olímpicos no Brasil, vinculamo-nos a tempos imemoriais, quando se celebravam, em Olímpia, no Peloponeso, as festas para comemoração da luta entre Zeus (Júpiter) e Kronos (Saturno), embora ao povo de Esparta se deva o principal impulso no século VIII à iniciativa. A primeira Olimpíada se realizou no início do ano 776 a.C. Quanto tempo, hein? 

No ano 393, os romanos venceram a guerra contra a Grécia e mudaram tudo. O imperador Teodósio proibiu a realização dos jogos por terem perdido seu significado moral e se tornado presa de profissionais e de combinações espúrias. Depois de 293 olimpíadas, o estádio de Olímpia, totalmente destruído, alcançou nossos dias.

Eis que o barão Pierre de Coubertin fez renascer o espírito olímpico em 1892, falando num dos anfiteatros da Sorbonne, ao proclamar inadiável o reatamento dos laços com os esportes de antanho. A ideia foi rigorosamente seguida e, em 5 de abril de 1896, o rei Jorge, da Grécia, declarou abertos os jogos da primeira olimpíada moderna, a que concorreram representantes de 13 países. 

Em 2016, após o fracasso total da Copa do Mundo, sentimos os seus tremendos prejuízos para o Brasil com sucessivas suspeitas e denúncias de corrupção, de obras inacabadas e contas dos elevadíssimos restos a pagar. Por último, a vergonhosa derrota da Seleção para a Alemanha, pelo elástico placar de 7 a 1, que jamais o povo deste país esquecerá.

Agora é a vez da Olimpíada, outra vaidade alimentada pelo governo que todo esforço fez. Enquanto os grupos políticos digladiam vigorosamente (e por que não dizer também vergonhosamente?) por cargos e benesses, assistimos praticamente aos últimos preparativos para os jogos.

A única que poderia inspirar efetivo interesse seria a disputa por acesso aos postos de saúde, serviços de pronto atendimento às vítimas do Aedes aegypti, às Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e hospitais públicos lotados inteiramente nestes dias anteriores às disputas olímpicas.

Aliás, o brasileiro é campeão de paciência nas filas destes estabelecimentos, de que muito carece, desde cadeiras para pacientes a medicamentos. Por oportuno, acrescentaria o muito de itens que faltam em hospitais credenciados ou do próprio SUS, mesmo contando com recursos das emendas destinadas por parlamentares.

Estamos quase no meio do ano, já se prepara o novo orçamento da União e dos Estados e persiste a carência de determinados aparelhos, equipamentos, móveis e utensílios que as normas oficiais exigem, mas que a máquina administrativa não fornece.

São decepções sobre decepções, que geram a insatisfação contra o governo e a desconfiança do cidadão que precisa de assistência médica, enquanto as filantrópicas se esforçam quase desesperadamente para coadjuvar o poder público, responsável constitucionalmente pela saúde.

A propósito, o “The Guardian”, de Londres, sintetizou- em 27 de abril – o que se prevê: os Jogos Olímpicos do Rio deixarão um “legado de lixo”. 

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