Novos governantes, habitações luxuosas para os que sonham com o poder, que proporcione benesses e pompa, como acontece comumente. É natural, embora haja aqueles outros que desprezam ou relegam a ostentação.
De tudo existe, em todas as épocas e lugares, mas algo é certo: os palácios favorecem o ambiente de adulação, de bajulação, com objetivos muitas vezes escusos, embora o correto senso de servir glorifique ou honre detentores do poder. Com este propósito, eles concorrem aos pleitos e fazem promessas populares em praça pública ou pelos modernos meios de comunicação. Há os que assim procedem e esquecem os compromissos.
Há casos curiosos. Na época da proclamação da República, aconteceu um dos episódios lembráveis. Deposto Pedro II, em 15 de novembro de 1889, ele recusou uma bela pensão que lhe ofereceram a bordo do navio que o levaria para o exílio. O “Alagoas” levantou ferros depois das duas da madrugada, enquanto o imperador mantinha a maior dignidade e a imperatriz chorava. Explicou-se: “como deixar de vertê-las ao sair de minha terra que nunca mais hei de ver?”.
No Rio de Janeiro, ficaram os muitos afoitos, elementos exaltados do Governo Provisório da República. Redigiram um decreto, assinado por Aristides Lobo, ministro interino da Justiça, declarando o confisco dos bens da Coroa. Entre estes, o Palácio Isabel, depois Palácio Guanabara.
Aí o engano ledo e cego, que permaneceu por muito tempo. O Palácio Isabel havia sido doado à princesa (que proclamara a libertação dos escravos um ano e pouco antes), por subscrição pública, como presente de núpcias, quando do seu casamento com o Conde d’Eu.
Era, deste modo, propriedade particular. Logo, deram de si e elaboraram um novo decreto, do qual se excluía o Palácio. No entanto, o edifício ficou esquecido: não pertenceu ao Estado do Rio, ao Estado da Guanabara, nem ao governo federal, ou à família imperial. Somente quando Epitácio Pessoa assumiu a Presidência da República, o exílio da família foi revogado e permitido o regresso ao Brasil dos jovens príncipes, que eram rapazes.
Os que sobreviveriam dos descendentes de Pedro II voltaram com sotaque francês, mas o presidente da República morava no Palácio Guanabara, despachando no Palácio do Catete. D. Pedro Gastão, o de Petrópolis, chefe da Casa Imperial, trocava. “Como é que podia eu chegar e requerer na Justiça o despejo do presidente da República, que tinha deixado a gente voltar para o Brasil? Não era possível”.
A família real constituiu advogado o mineiro San Tiago Dantas, que entrou com ação na Justiça. Acontece que, então, lá já despachava o general Mendes de Morais, o prefeito. A mesma situação de antes: como despejar um general chefe de executivo?
Com a saída de Mendes de Morais do cargo, a ação parecia ganhar espaço. Mas com San Tiago Dantas já no Partido Trabalhista Brasileiro, como entrar contra a família imperial, para tomar do povo do Rio de Janeiro o Palácio Guanabara? Assumiu a pendenga, naquela hora, o advogado Miguel Lins, por substabelecimento. A partir daí, faltam-me informações.