Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Ponto à venda

Publicado em 28/05/2022 às 06:00.

No Brasil, quando a situação fica mais difícil, as autoridades pensam logo em vender algo de seu patrimônio para tentar resolver a dificuldade. É sempre assim, mesmo que se saiba que logo o problema voltará, porque não se deu a solução melhor. E o povo vai na conversa, depois de conhecer o mal que administrações federais causaram à empresa e à nação.

Recente pesquisa Ipespe divulgada há pouco mostrou que 67% dos entrevistados são favoráveis à privatização da Petrobras, caso haja segurança de que a venda da estatal leve à queda do preço dos combustíveis. Somente 49% dos ouvidos disseram não concordar com a alienação da companhia. Não basta atribuir a guerra Rússia/Ucrânia a responsabilidade pelas perspectivas de mais elevação nos preços dos derivados de petróleo. Anos atrás, o professor Aloysio Biondi opinou que as privatizações por aqui constituíram um desastre.

Amaury F. Brandão, de Pouso Alegre, já em maio de 2005, me escrevia, antevendo então fatos que se confirmaram, como o racionamento energético: “O governo confiou que bastaria leiloar as concessionárias para que elas suprissem a defasagem existente, mediante investimentos necessários”. As concessionárias nada investiram, a agência reguladora nada regulou e fiscalizou, de sorte que o país amargou um romântico apagão, com prejuízos para todos os setores produtivos. Convém lembrar que, ao se desfazer das concessionárias, o governo lhes entregou tarifas atualizadas desde 1955, num patamar de 135,7 contra uma inflação de 61,28%”.

Alcançado por surpresa desagradável – a necessidade de racionamento – havia o governo de erigir um culpado. E esse foi São Pedro, cujas torneiras ele se esqueceu de abrir. Na terra onde canta o sabiá, é sempre fácil encontrar um bode para responder pela incúria alheia. Essa transferência de responsabilidade faz-me lembrar uns versos, quando se pergunta: espelho, espelho meu! Há um governo mais omisso que o meu? Há um povo mais passivo que o meu? Sempre pronto a chapeladas, o governo criou o “Seguro Apagão” para ressarcir as distribuidoras do prejuízo que tiveram com a economia que a sociedade fez, de luz e força.

Chegou a vez da Eletrobrás, criada no governo da Revolução, mas não se podia esquecer a Petrobras, do velho Getúlio. Vender, eis a proposta, deste século, em cujo segundo decênio vivemos.

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