O Papa Francisco dá ibope. As pessoas querem saber de suas opiniões, de sua posição diante dos fatos deste tempo que vivemos (bons ou maus), de seus projetos e planos, do que pensa sobre o resultado do jogo mais recente do San Lorenzo, o clube pelo qual torce na Argentina, pátria por nascimento.
Enquanto a Igreja luta com a falta de sacerdotes e religiosas em seus quadros, Francisco, em 13 de maio de 2016, anunciou intenção de criar comissão para estudar se as mulheres podem ser diaconisas, considerando “uma possibilidade real nos dias de hoje”.
Não foi a primeira vez. Ele admitira a possibilidade durante o Sínodo dos Bispos, em outubro de 2015, quando Paul-André Durocher, arcebispo canadense, propôs o estudo do caso. O pontífice explicou que comentara o assunto com um “sábio professor”, por não “saber exatamente que papel elas desenvolviam e, sobretudo, se tinham sido ordenadas ou não”. De fato, o diaconato é o grau de consagração anterior ao sacerdócio, podendo as diaconisas administrar alguns sacramentos, como batismo e casamento, que atualmente só os padres fazem.
O mesmo não aconteceu com relação ao sacerdócio. Em 3 de novembro, na Suécia, Francisco afirmou peremptoriamente que a proibição de mulheres se tornarem sacerdotes é para sempre norma da Igreja Católica Romana e, jamais, será alterada. O papa falou sobre o tema a bordo do avião de volta a Roma. Foi incisivo: “São João Paulo II teve a última palavra clara sobre isto e assim fica, assim fica”, como definido em documento de 1994. Para o Vaticano, isso é parte intocável da tradição católica, embora apoiadores da tese esperem que o próximo pontífice mude a atual situação. A Igreja considera que pessoas do sexo feminino não podem ser ordenadas, porque Jesus escolheu só homens como apóstolos, embora críticos digam que Jesus apenas seguia normas da época.
Francisco tem razão: é necessário estudar o assunto em maior profundidade. A Igreja nos tempos bíblicos foi servida por diaconisas ou “viúvas eleitas”, que cooperavam com os diáconos no serviço dos pobres e naquilo mais próprio ao seu sexo. São Paulo se refere à carta Febe De Concrea, chamando-a com esse título.
No século IV, o batismo de imersão se generalizou. Com a nudez dos batizandos e unção com óleos de exorcismo, considerou-se necessário o serviço dessas mulheres, pois os costumes exigiam a separação dos sexos, o que não mais ocorre.
Enquanto assim acontecia nas Igrejas do Ocidente, depois do século XII e nas do Oriente do século seguinte, certas igrejas evangélicas holandesas, a partir do século XVI, denominaram diaconisas as anciãs encarregadas de visitar ou cuidar dos doentes, em especial das pobres.
Há uma longa história em torno dos fatos, de modo que é preciso mais do que navegar no tema, tão oportuno nesta hora. Até porque em Portugal, um Concílio das Igrejas Evangélicas votou, em 1942, por exemplo, o restabelecimento do ofício eclesiástico das diaconisas. Não sei se continua.