Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Rui em Juiz de Fora

11/09/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:23

O atentado de que foi alvo o candidato Bolsonaro à Presidência da República, às 15h40 de 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora, nos obriga a voltar a atenção para aquela cidade, durante a campanha civilista, em 1910. Então, era Rui Barbosa contra Hermes da Fonseca, um embate não de partidos, mas de ideias e princípios, que a nação acompanhava muito de perto. Rui seguia hostilizado pelos governos federal e estaduais, também municipais, inclusive pela imprensa escrita, a única existente.

Nada de força, de violência. Em Juiz de Fora, o candidato civilista, que se opunha ao contendor militar, declarou em discurso: “Desde o primeiro povoado até as mais modestas populações, por toda a parte, encontramos a mesma veemência do sentimento patriótico, o mesmo exaltado civismo de um povo livre. Não eram as grandes cidades; eram os pequenos centros de população, as espaçadas regiões agrícolas; mas era o mesmo espírito de resistência, de energia moral que sempre constituiu para este povo o melhor galardão de sua história política e social”. 

O presidente da República, Afonso Pena (mas com dois ff e dois nn, Affonso Penna), mineiro, tolerante e moderado, não fugia a seus deveres. O concorrente de Rui, um militar, o próprio ministro da Guerra, Hermes, parente muito próximo de Deodoro, o proclamador da República. Duas candidaturas: a civil por oposição à imposição militar, o Direito contra a Força, escreveu o historiador João Camilo.

Preparou-se o ambiente espiritual e popular para receber Rui Barbosa. O restante era obra de sua palavra, quase evangélica, observa o autor itabirano. Seus discursos em Juiz de Fora, Ouro Preto e Belo Horizonte, ainda quase adolescente, são peças de antologia oratória. Nos longos percursos, exaustivos, Rui sempre tinha ao lado a esposa, D. Maria Augusta, “convertendo a mulher em uma força de propaganda inaudita e irresistível”, na própria expressão do candidato. 

Em 17 de fevereiro, chegou Rui à Manchester, como apelidada. Na estação – e o meio de transporte mais rápido era o “trem de ferro” – foi saudado pelo poeta e jornalista, Dilermando Cruz, falando em nome de uma pequena multidão ali reunida.

A caminho de Ouro Preto, gente simples cercando a locomotiva e fazendo-a parar para saudá-lo, vê-lo, ouvi-lo, se possível. Enquanto a composição corria pelos trilhos, o candidato explicava seu papel naquele momento histórico, não perdendo ensejo para enaltecer Minas; “O povo ordeiro, pacífico, laborioso, acostumado a se inclinar sem protestos ao ascendente de seu s chefes, ‘mas que, desta vez, os encarava rosto a rosto’”. 

O baiano ilustre, referindo-se a Minas, comentou: “Do surto de independência com que repeliu de si os patriotas avariados, os falsos mineiros, os parceiros dos cangerês do servilismo, os conchavadores de golpes de Estado, Minas elevou-se mais alta, mas nobre, mais gloriosa”.

E concluía que a campanha mineira de 1909 e 1910 não era um combate de facções: “Tão profunda vibração política debalde se procurará em toda a história mineira”. A este só se podia comparar o movimento de 1842. Constituía em síntese, o sentimento da necessidade de deslocar-se “a política dos blocos e das oligarquias para a vontade soberana do povo”.

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