Nesta conversa diária, no último dia 20, ao comentar sobre JK, cometi um erro ao dizer que o antigo presidente se elegeu prefeito de Diamantina em 1934. Apresso-me a corrigir: naquele ano, Juscelino foi então, sim, escolhido deputado federal com a maior votação do Estado, filiado ao Partido Progressista de Minas, o PP-MG.
Quem me advertiu para o equívoco foi Saulo Levindo Coelho, ex-deputado federal e ocupante de diversos cargos públicos importantes, agora na Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Ele conhece de política como poucos, tem memória invejável, descende de ilustres mineiros, como Ozanam Coelho, o pai, governador de Minas, e do senador Levindo Coelho, o avô, também primeiro secretário de Educação e Saúde do Estado.
Percorro os olhos pela história daquele período, como sempre complicado, da nação. Juscelino ficou menos de três anos na Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro – claro. Empossado em 1935, saiu em novembro de 1937, quando a Casa foi fechada por Getúlio no golpe instituidor do Estado Novo.
Quando da Intentona Comunista de 1935, sendo em Minas governador Benedito Valadares, este pediu, ou determinou a Juscelino, também oficial da PM, que interferisse junto ao coronel João Mendonça de Lima, diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil, para reter aqui a composição que conduziria as tropas da polícia que auxiliariam na repressão ao movimento no Rio de Janeiro.
Quando se recorda esses fatos, constata-se como o tempo é célere e traz lições. Em 1934, Juscelino é eleito deputado federal; 20 anos depois, Getúlio dá fim a vida com um tiro no coração em pleno Palácio do Catete; 10 anos após, 1964, dá-se o novo golpe, para remover Jango do Palácio e implantar uma ditadura militar, cujas lembranças são ainda muito vivas.
Sem mandato, após o primeiro, Juscelino volta a suas atividades como médico no Hospital Militar (na rua Manaus, inaugurado em 1914), na Santa Casa e no São Lucas. O exercício da medicina, contudo, jamais o afastou das atividades políticas.
Em 1940, Juscelino assume a prefeitura da capital, permitindo-lhe ampliar suas bases políticas. Frequentou os bairros, procurou interligá-los ao centro da cidade, asfaltou vias públicas, construiu redes de saneamento, tudo em ritmo pouco visto antes. Chegou a ser apelidado de “Prefeito Furacão”.
Com o fim da ditadura de Vargas, Juscelino perdeu as rédeas da administração municipal, mas já tinha construído o suficiente para eleger-se novamente deputado federal. Recebeu expressiva votação em Belo Horizonte e interior. Em nova época, com Dutra no Catete, JK se transfere para o Rio de Janeiro como constituinte, quando nasceu a Carta de 1946.
Em pleito seguinte, Juscelino supera Gabriel Passos, pela UDN, e assume o Palácio da Liberdade, em 31 de janeiro de 1951. Era um importante passo para alcançar o Catete, a que chegaria então Getúlio Vargas, enfim presidente democraticamente eleito.
A tragédia de 24 de agosto de 1954 abalou a nação, mas não a Juscelino. Numa convenção para definição do PSD quanto a uma candidatura à sucessão presidencial, a escolha recaiu sobre o diamantinense. Ele fez um discurso vibrante na convenção e disse: “Deus me poupou o sentimento do medo”. E se elegeu ao Catete, o último presidente a ali exercer o cargo. Em seguida, veio Brasília.