Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Tragédia na BR-251

Publicado em 20/07/2018 às 18:25.Atualizado em 10/11/2021 às 01:31.

Não causa mais susto sequer. A sucessão de graves acidentes nas rodovias do Norte de Minas se transformou num registro corriqueiro que ocupa amplos espaços nos jornais, no noticiário das rádios ou imagens na televisão. 

O desastre na BR-251, em Francisco Sá, nome de um dos grandes benfeitores da região, que levou ferrovia a extensos territórios de um Estado praticamente com as dimensões da França, não mais serve como advertência aos gestores da administração pública. Todos sabem da grandeza do problema, crescente com o número de veículos que por ali circulam e pela falta de atenção para as condições precárias da malha rodoviária.

Quando o ministro Francisco Sá, nas duas primeiras décadas do século findo, decidiu envolver-se pessoalmente na construção de ferrovia para suprir a demanda do inóspito sertão, preconizava também o crescimento da população e da produção agropecuária e, consequentemente, de vias adequadas de comunicação e para escoamento das safras.

Depois, aconteceu o que se conhece: a rápida ampliação do sistema rodoviário em detrimento do ferroviário. Em determinado momento, as estradas de ferro foram reduzidas a plano secundário, com trechos enormes sumariamente suprimidos. Daí, a situação a que se chegou, sem que o poder público assumisse sua responsabilidade na manutenção condizente das autoestradas, a despeito de sua importância econômica, social e humana. 

A tragédia do primeiro dia útil da semana é um grito de acusação (àqueles que insistem em ignorar fatos que não mais acontecem frequentemente, porque são incessantes. No mais recente acidente (se outro não ocorrer enquanto redijo estas linhas), pereceram – ou foram assassinadas – oito pessoas, ferindo-se nada menos de 53 brasileiros. Pela descrição, percebe-se que serviços prestavam os veículos: cinco carros de passeio, um ônibus e cinco carretas. Não se contaram inicialmente os desaparecidos.

Por um terrível capricho da sorte, um carro Fiat estava a serviço da saúde da Prefeitura de Rio Pardo de Minas, transportando pacientes em tratamento de câncer, que diariamente faziam terapia em Montes Claros. Eram sete passageiros, de que não se tem maiores informações, mas se pode adivinhar. No ônibus, envolvido no desastre – e aqui o substantivo parece bem usado – estavam 16 crianças, que felizmente se salvaram, o mesmo não acontecendo com 64 adultos, atendidos em hospital de Francisco Sá.

Evidentemente, todo cuidado se exige ao trafegar por ali, com curvas sinuosas, que exigem perícia e prudência. Das autoridades, porém, muito mais se pretende, embora os mortos não reclamem. Perdurará o registro de vidas destruídas por todo o solo brasileiro, porque não se dá indispensável atenção às autopistas, transformadas verdadeiramente em caminhos para as necrópoles.

Não há tempo para fazer alguma coisa, porque estamos em período de caça aos votos. Aos candidatos, caberá prometer, esperando-se que sejam fiéis aos compromissos assumidos. Outubro está chegando com uma carga pesada de anseios e reivindicações de uma população tão carente e mal retribuída. Urge mudar o quadro e o clima. O cidadão está cansado de esquecimento ou de ser simples instrumento de manobra. 

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