Atenho-me à segunda edição, que é de 2023. O livro é a “A poética do suicídio em Sylvia Plath”, de Ana Cecília Carvalho, contendo a versão modificada da tese de doutorado em Literatura Comparada, defendida na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas gerais, em que lecionou até 2009. Detentora de relevante títulos e autora de vários livros, Ana Cecília deixou o Brasil e reside nos Estados Unidos com o esposo e as duas filhas.
Sylvia Plath também teve dois descendentes, mas do sexo masculino. Casada com o poeta inglês Ted Hughes, aos 30 anos de idade (são 70 anos), em 1963 ela deu fim à própria vida, na capital inglesa, quando se encontrava na plenitude física e na produção poética, que lhe outorgou o prestígio como uma das importantes autoras do século.
Dificílima a missão de que se incumbiu a professora mineira, mas não menor o desafio de viver, enfrentado pela escritora norte-americana. Coube à brasileira acompanhar os passos, os sentimentos, pensamentos e disposições de Sylvia Plath.
Com muita propriedade se referiu a prof.ª. Ruth Silviano Brandão: “Ana Cecília persegue o traço de Sylvia Plath em direção à morte - morte que foi a impossibilidade de estancar o jato de sangue que flui de uma ferida nunca cicatrizada, dor de existir que irrompe no ponto insuportável em que a letra exibe o fracasso de sustentar uma vida cujo traço essencial foi a melancolia”. Mais: “O que este livro revela é que a escrita não é sempre remédio, pois não barra de forma cabal as pulsões destrutivas e, entretanto, aquele que escreve pode fazer poesia até a morte, radicalizando a surpreendente intensidade do ato poético.
Ana Cecília adentra o mais fundo e íntimo de Sylvia Plath, mas havia muitos universos a serem penetrados e identificados. E há de se perguntar: escrever nutre o escritor? Há terapêutica na produção literária e artística?
Escrita - remédio ou veneno? Ana Cecília afirma que Sylvia sempre se concentrou na tentativa de transformar seu mundo subjetivo em material literário. Para a professora brasileira, no gesto de autoextermínio de Plath, há um esforço de contenção daquilo que, irrompendo em sua destrutividade, terminou por efetuar na morte uma derradeira representação.
Deste modo, autora brasileira colocaria em estranho conceito, segundo Ruth, em que a poética do suicídio, ao mesmo tempo, constitui uma leitura em que não se deixou emaranhar pela fascinação narcísica da melancolia, não cedendo à atração medusina de um texto que aponta para águas sombrias, sem perder sua eficácia poética.