Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Um crime abominável

07/06/2016 às 20:03.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:47

Os crimes cometidos contra uma adolescente no Rio de Janeiro indignaram, em todos os lugares do Brasil a que chegou a notícia, em todo o mundo civilizado, enfim. Escrevi – civilizado. O que aconteceu desobedece aos limites de humanidade numa época em que todos esses atentados contra o ser humano já deveriam constituir uma nódoa relegada a passado longínquo. 

No tempo em que se cuida de preservar os irracionais que circulam pelas ruas, de proteger cães e gatos e de oferecer tratamento luxuoso aos animais domésticos de estimação, episódios como os registrados numa cidade que já foi capital da República e pretende ser espelho para o mundo nas Olimpíadas de 2016 obrigam refletir como estamos longe do considerado humano.

Afinal, que animal é o homem?

Supostamente não somos mais primitivos por até nos localizarmos no que se convencionou classificar de Novo Mundo. Não é este o tempo e o lugar que desejaríamos, se fôssemos civilizados. Lembro com Ivan Lins, o grande humanista (filho de Edmundo Lins, presidente do STF na Ditadura Vargas), que a mulher, tal qual se nos apresenta hoje é o eterno feminino de Goethe – misto de ternura e pureza. A lenta transformação à humanidade resulta de longa e tormentosa evolução da na imalidade, em que primitivamente nos achávamos enchafurdados, até os dias em que começamos a parecer homens. 

Tem razão Ivan Lins: parecer homens. E os episódios do Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, abençoada por Deus (?), mostram de maneira clara e insofismável que apenas parecemos humanos. Os tempos antigos passaram, mas não mudamos o suficiente. “Nada mais subalterno entre os antigos, do que o papel das mulheres, meras máquinas de procriar, sem merecerem o menor apreço quer sob o prisma intelectual, quer mesmo sob o aspecto afetivo, achando-se no Direito Romano compreendidas na classe das coisas. Mesmo as patrícias ficavam, sob o nome de titela, numa espécie de escravidão”, como observou o sábio Ulpiano. 

Em que pese a demorada transformação através de séculos que somam milênios, poder-se-ia classificar os fatos que ocupam os noticiários dos meios de comunicação como vergonha moral da Antiguidade... E de hoje.. E de sempre. Os fatos inquietam e revoltam. E são fatos. 

No Brasil, somos cristãos e cumpriria lembrar que o cristianismo foi a primeira religião que se propôs, de modo sistemático, a purificar o homem. Falhamos criminosamente, porém,deixando predominar a brutalidade do instinto sexual, o mais perturbador de quantos constituem a complexa alma humana. 

Pois Ivan Lins comentou: “Tornado-se o homem, através da purificação e do acréscimo de ternura nele produzidos pelo catolicismo, mais capaz de amar, aplicou essa capacidade, não só a Deus, mas à mulher que lhe suaviza a existência, como companheira das horas de dor e alegria”. 

Sem embargo, assim não é para grupos e pessoas que precisam ser identificados e punidos. Aliás, as lições estão em São Paulo, ao reprimir, mediante atento e minucioso cultivo moral, os mais enérgicos e grosseiros instintos do homem... “Pois o amor é a mais alta virtude, maior que a esperança e ainda maior que a fé”. 

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