Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Um retrato trágico

Publicado em 05/11/2024 às 06:00.

Quem aqui vive ou que, de algum país distante toma conhecimento da vida brasileira, conhece a crise - vamos dizer bélica - que invadiu as grandes cidades. Terá ainda a pulsão de perguntar: que será de território tão grande e pleno de belas perspectivas, diante da sucessão de crimes contra a vida e a propriedade?

Atravessamos um período cruel em violência nas capitais dos estados maiores, transferido o problema em toda a sua extensão e profundidade aos demais núcleos e os interioranos. 

O direito constitucional de ir e vir é apenas um texto sem obediência. Todo cidadão teme hoje sair à via pública até para locomoção ao trabalho. As famílias se inquietam à hora de levar os filhos à escola, essa também atormentada pelos riscos de várias naturezas.

O transporte urbano se tornou ameaça de todos os dias por motivos sabidos, inclusive pelas condições precárias dos veículos ou pelo desafio de passageiros dispostos à prática de atentados ao pudor e à integridade pessoal. 

No Rio de Janeiro, outrora cantado em verso e prosa, a situação é de total e permanente insegurança. A avenida Brasil, principal via expressa, tem média de oito tiroteios a cada dois dias, segundo dados de entidade credenciada. Registram-se, nos últimos oito meses, mais de 1.500 tiroteios. Em média são mais de 190 confrontos por ano no importante trajeto de coletivos, cercado o itinerário por favelas sob domínio do crime organizado e alvo permanente de operações policiais.

Mencionada avenida, vizinha de 70 favelas é alvo incessante de disputas territoriais de facções, de milícias e traficantes e, consequentemente, de confrontos regados e estigmatizados por sangue. 

As desavenças e desentendimentos domésticos se reiteram em cenas que nada têm a ver com civilização. Antes pelo contrário. 

As mortes no que deveria ser lar estão inseridas no cotidiano de casais mal formados social e religiosamente pares que não aprenderam na infância viver em harmonia, entregues a costumes espúrios, de que não conseguem, nem se interessam, por se libertar. A polícia, a Justiça se veem em apuros para minimizar os problemas, enquanto o sistema carcerário se vê obrigado a ampliar suas vagas ad infinitum.

Lamentavelmente, estamos mal sob tais aspectos. Quem ganha é a criminalidade que avança interminavelmente, constituída de crescente e ativada proliferação de esquadrões e facções a serviço do mal.

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