Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Uma história trágica (mas verdadeira)

Publicado em 04/11/2016 às 17:48.Atualizado em 15/11/2021 às 21:31.

É uma história fascinante, a de Dom Sebastião, de Portugal, que nos é contada (ou era) desde os bancos escolares. Aliás, a singularidade de sua vida não emana simplesmente de ter-se tornado soberano aos três anos de idade, pois, aos 24 anos, desapareceu em batalha contra os muçulmanos no Marrocos.

Até hoje há lusitanos que esperam a volta do rei para conduzir Portugal aos seus melhores destinos. Quem quiser conhecer melhor Dom Sebastião pode recorrer ao romance histórico, lançado pela Editora Europa, SP, um volume de quatrocentas páginas de autoria de Aydano Rorys, baiano de Juazeiro, ora residente na Ilha da Madeira, a mil quilômetros de Lisboa.

Um exemplar me foi encaminhado pelo meu amigo, advogado Mauro Pereira Cândido, que conhece minhas preferências e ajuda a não me faltarem leituras interessantes. Aydano aparece em foto na orelha da contracapa, com aparência de artista de shows, em paletó vermelho, mas seu livro transmite muito mais informações do que apenas sobre Dom Sebastião.

A narrativa começa com a notícia chegada a Ribeira das Naus, logo alcançando as 20 mil casas de Lisboa. Nada tão estapafúrdio, o boato cheirava a perfídia, injúria dos marranos, mas com crescente zum zum zum conduzindo uma fieira de pormenores. 

Tudo acontecera em 4 de agosto, perto de Alcácer-Quibir, onde os portugueses sofreram fragorosa derrota pelos mouros. Perderam a vida 25 mil homens integrantes da Cruzada de Dom Sebastião e poucos conseguiram salvar-se. Oito mil morreram e os demais foram levados a cativeiro. 

E o rei? Dom Sebastião, tão desejado e querido pelos lusos, simplesmente sumira, “evaporara sem deixar vestígio”. Muitos milhares, milhões, seguiram acreditando que o soberano apareceria um dia, como acontecera com Jesus numa caverna junto a Jerusalém. Os portugueses continuaram acreditando que, “um belo dia, ele ressurgiria das brumas do Mar Oceano e voltaria a sentar-se no trono que lhe fora designado por Deus”. 

A história, contudo, não se resume a Dom Sebastião. O livro se refere muito a tempos anteriores e a reis precedentes, uma crônica de desmesurada ambição por terra e poder. 

De fato, os acontecimentos vêm desde Dom João III, 15º rei de Portugal, com 52 anos, casado com Catarina de Áustria. Naquele 1554, ambos passaram novamente pela adversidade ao assistirem à morte de Dom João Manuel (tinha de ter Manuel no nome, que enfim era um luso). Morreria de “morte sofrida: de uma moléstia invulgar, que mantinha Sua Alteza permanentemente fraquito com insaciável sede”, talvez diabetes mellitus. 

O falecido tinha exatamente dezesseis anos e sete meses, menos um dia. O pai pediu segredo, para que a nora Dona Juana, princesa de Castela, grávida, não ficasse de “nojo”. Catarina, a mãe do príncipe, espanhola, lamentava-se, revoltava-se com a sorte. O marido, rei português, não deixaria herdeiros diretos, pois seus oito filhos anteriores tinham morrido extemponareamente, além de dois bastardos. “Desgraçadamente sobraram um genro, um neto recém-nascido e a nora com o filho da gestação. A esperança da coroa se depositava no ventre de Juana, a jovem princesa-viúva espanhola. 

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