O “Novo Ensino Médio” vingará?

Léo Miranda
22/03/2023 às 06:13.
Atualizado em 22/03/2023 às 21:39

Na última semana, para ser mais específico, no dia 15 de março, vários estudantes secundaristas foram para as ruas das principais capitais brasileiras protestar contra o “Novo Ensino Médio”, que começou a ser implementado no início do ano passado. 

O projeto foi criado em 2017, no governo do então presidente Michel Temer e trazia como principal novidade a inclusão de disciplinas optativas, denominadas percursos formativos, com o objetivo de flexibilizar e “modernizar” os currículos escolares, deixando-os mais atrativos para os estudantes. Também foi incluída a ampliação do ensino em tempo integral para que fossem acomodadas todas as novas disciplinas, mantido também um currículo básico só que com menos aulas obrigatórias.

 As medidas foram rapidamente incorporadas no ensino privado, que em sua maioria já contemplava uma carga horária estendida, como também melhor estrutura para implementar os novos percursos formativos, mesmo que para isso fosse necessário reduzir a carga horária de algumas áreas, principalmente a de humanas. 

No entanto, no ensino público, onde estão 85% dos estudantes brasileiros, a história foi outra. Com menos recursos disponíveis e principalmente com alunos de uma realidade bastante distinta em termos sociais e econômicos, as escolas públicas rapidamente sucumbiram à falta de parâmetros claros para a construção das disciplinas extras. Foi daí que nasceram percursos formativos sem fundamentos em termos metodológicos e pedagógicos, como “Mundo pet”, “Linguagem das redes sociais”, entre tantas outros.

Para piorar, no “Novo Ensino Médio”, retirou-se a obrigatoriedade de disciplinas de Filosofia e Sociologia, além de não ter estabelecido uma carga horária mínima em outras como língua estrangeira.

O resultado das mudanças do jeito que foram implementadas foi o aumento da desigualdade escolar. Com a ampliação da carga horária (de 2.400 para 3 mil por ano letivo) sem a avaliação adequada da realidade socioeconômica do país, muitos estudantes de escolas públicas que trabalham abandonaram a escola. Sem contar aqueles que pela redução da carga horária de disciplinas necessárias ao Enem, tiveram o acesso às universidades públicas comprometido.

Diante de tantas variáveis negativas, da pressão de especialistas e mais recentemente de estudantes, o MEC publicou uma portaria no dia 9 de março com uma consulta pública sobre o tema. A ideia, segundo o ministro Camilo Santana, é a de aprimorar no “Novo Ensino Médio”.

Curiosamente o novo Enem que passará a valer em 2024 aprofunda a demanda por conhecimentos específicos e não traz nenhuma proposta para a inclusão de percursos formativos na prova. Entende-se daí que a prova mais importante do país, que possibilita o ingresso de milhões de estudantes no ensino superior, parece caminhar em outro rumo do que até então está posto. Resta saber o que prevalecerá.


Professor, criador d o Canal “Mundo Geográfico” no YouTube

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