Aristoteles Atheniense*
O Brasil amanheceu, no último dia 30, sob o impacto da queda do avião que transportava a equipe da Chapecoense e jornalistas. <TB>Na mesma madrugada, 32 deputados mineiros, que se diziam defensores da moralidade, se incorporaram àquela malta de pilantras que desvirtuaram o pacote de medidas anticorrupção.
Não bastasse o despudor desse bando, 33 senadores federais, na noite seguinte à tragédia, se reuniram na residência do senador Eunício Oliveira, numa comemoração antecipada do Natal, que contou com a surpreendente presença do combatido Michel Temer.
A rejeição do aguardado projeto provocou o nervosismo do mercado com o avanço do dólar e queda da Bovespa. Mas a sua finalidade precípua foi de desmoralizar o Judiciário e o MP, tal como ocorreu na Itália, com a “Operação Mãos Limpas”. Se para aquele movimento indecoroso concorreu Silvio Berlusconi, já no alvorecer da última quarta-feira, o Brasil contou com outros da mesma estirpe, do porte de Renan Calheiros, Rodrigo Maia e Dias Toffoli, com a pátria perplexa diante de tamanha malandrice, insensível aos mortos e seus familiares.
O Congresso, conforme ressaltou a colunista Eliane Cantanhêde, converteu-se numa Arca de Noé, com os deputados tentando se salvar do dilúvio, buscando se livrar de futura condenação.
Como um político oriundo do PMDB, partido reconhecidamente descompromissado com a causa pública, a sua ousadia não surpreendeu àqueles que acompanham sua trajetória obscena, marcada pela trampolinagem.
Felizmente, a decisão do STF, sempre aguardada, concorreu para desanuviar, em parte, a desilusão dos brasileiros com a classe política e seus mentores.
Ainda que Renan disponha de tempo para permanecer no comando do Senado, o acatamento da denúncia pela prática de peculato haverá de marcar indelevelmente a sua figura, restando ainda contra ele 11 processos no STF. Salvo eventual prescrição, as condenações esperadas haverão de penalizá-lo definitivamente, servindo de exemplo aos seus comparsas e seguidores.
Queira Deus que isto aconteça. É a nossa derradeira esperança.
(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB, diretor do IAB e do Iamg e presidente da AMLJ