Mauro Condé*
“Onde você vê a teimosia, alguém vê a ignorância” ... Fernando Pessoa.
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes biografias.
Elas me levaram para Tóquio, no Japão do ano de 1975, onde fui recebido por Hiroo Onoda, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
- Seja irritantemente teimoso e disciplinado ... mas abandone a teimosia quando ela deixar de fazer qualquer sentido.
No Japão de 1944, Hiroo recebeu ordens expressas de seu superior no exército para ocupar terras de um país vizinho a fim de dificultar a tentativa de invasão por tropas inimigas, durante a segunda guerra mundial.
E as ordens eram para que ele transformasse seu próprio corpo em sua pátria e para que jamais o deixasse cair em mãos do inimigo.
O jovem foi então transferido para a Ilha Lubang, nas Filipinas, a fim de preparar uma resistência autônoma e local.
Tendo constantes pesadelos com imagens de destruição vindas de sua terra natal e, ainda inexperiente mas respeitado pelo senso de obediência à hierarquia da época, tratou de armar e treinar toda a sua tropa.
Após uma série de derrotas e tendo que dar um norte para o escasso grupo de soldados leais e remanescentes, ele traçou uma estratégia de luta e sobrevivência ainda maior, com táticas de ataque e defesa que iam além até dos últimos limites.
Combatendo com unhas e dentes filipinos locais, em busca de soldados inimigos, aos poucos ele foi invadindo a selva, para lá permanecer por mais de 10 mil noites.
Seu mantra era obedecer à risca a ordem de se manter vivo a qualquer custo, resistir e esperar que seus superiores o fossem resgatar ao fim do combate.
Passados poucos anos, Hiroo e seus dois últimos amigos começaram a catar panfletos atirados de helicópteros que voavam naquela região anunciando o fim da guerra e a rendição dos japoneses.
Desinformado, desconfiando e pensando se tratar de um golpe, se manteve embrenhado na selva ao longo dos anos ... de 1944 até 1974 ... escondido dentro de si mesmo e do mundo.
Finalmente localizado, solitário voltou ao seu país onde recebeu honras de herói e ensinou uma rica lição: “tome cuidado para não insistir num caminho errado por tempo longo demais”.
*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco