Nadjanaira Costa*
Quem ensina o quê a quem? Essa é uma reflexão que venho fazendo cada vez que me deparo com informações e conteúdos excessivos nas redes sociais, sem respaldo teórico ou prático que chancele um conhecimento didaticamente construído. Chamo a isto de pedagogia do absurdo. Mas o que é absurdo na era digital, da superexposição, da sociedade da constante vigilância e da falta de controle, escrúpulos e bom senso? Essa pedagogia do absurdo fere o ciclo de aprendizagem e vai deformando as fases necessárias à construção de cognições e sinapses que ajudam a nos diferenciar daquilo que está estagnado e que nada acrescenta, por embotar a nossa capacidade de problematizar uma questão; encontrar significação, ter uma experimentação, ser capaz de refletir e conceitualizar sobre as coisas da vida ou temas, e ainda ter liberdade de ação e de avaliação sobre tudo o que é permanentemente exposto.
Este ciclo está esquecido pela pobreza das palavras, pela falta de discursos autênticos que não coloque a todos no lugar comum da facilidade de ter um canal para expor ideias e imagens sem uma linguagem estruturada. Mas a pedagogia do absurdo não está só nas palavras por vídeos, áudios, libras, cenas e nem em montagens de posts ou dancinhas. Está na intencionalidade de quem cria estratégias para alcançar mais seguidores desavisados de que o ciclo de aprendizagem não pode se resumir à pedagogia do absurdo, que se comunica apenas na dicotomia do certo ou errado, sem referências que lhes dê autoridade moral.
O ápice dessa pedagogia do absurdo, construída pela sociedade em rede, volátil e líquida, pode ser vista na “representação do eu na vida cotidiana”, como lembra Goffman (1922-1982), analisando a Fachada Social.
Agora é tendência personalidades exporem suas doenças, falências, traições e outras fragilidades para se manterem sempre em evidência, com audiência crescente sobre aquilo que os incautos têm como questões corriqueiras em sua vida. A doença comum que acomete qualquer pessoa torna-se um pano de fundo para a sociedade do espetáculo, lembrando Guy Debord (1931-1994). Tudo passa a ser exposto, como uma nova estratégia de se manter um “ritual de interação”, de postagens diárias, para mais consumo, admiração, estabelecendo, segundo seus critérios, o bom e o ruim, preto e branco, o normal e o anormal. Quem ensina o quê a quem na pedagogia do absurdo?
* Microempresária, professora universitária, mestre em Comunicação Social