Cesar Bullara*
A felicidade foi sempre um dos grandes temas da filosofia clássica grega. Há uma melhor vida a ser vivida ou depende do gosto de cada um escolher qual é o tipo de vida que quer viver? Existe ou não uma ética por trás da felicidade? Tais perguntas definem o cerne de questões fundamentais para a existência humana ao longo dos tempos.
Para respondê-las, torna-se necessário entender o dinamismo da ação humana. Todos nós possuímos um anseio vital por respostas definitivas. Nisso consistem nossos momentos de trepidação interior, de acordo com o que Kierkegaard descreve em suas obras.
É preciso ultrapassar os limites da psicologia para alicerçar nossa discussão numa dimensão do saber que, por ser mais ampla e profunda, nos dá as respostas de que precisamos: esse é o conhecimento filosófico.
O que nos distingue dos animais e dos demais seres vivos? Qual é a essência do ser humano? Para identificar o DNA da condição humana, precisamos reconhecer duas lógicas que direcionam nossas ações.
Elas não são excludentes entre si, mas podem ser complementares ou opostas. Por um lado, a lógica do interesse próprio é a que fundamenta a visão de Thomas Hobbes: o homem é o lobo do homem.
Dentro dessa perspectiva, foram estabelecidas muitas premissas para a atuação individual, como a que determina a atividade econômica, dando origem à teoria da firma/agência e à teoria dos jogos, que fala sobre a maximização de retornos.
A pessoa egoísta é focada no próprio bem-estar. Está sempre se apalpando e checando se está ou não satisfeita, se tal coisa lhe agrada ou desagrada. A solidão interior é seu sofrimento característico.
O egoísta quer as coisas do seu jeito, buscando o próprio prazer acima de tudo e de todos. Busca a si mesmo numa relação hipertrofiada com o próprio eu. Esse modo de ser gera sofrimentos subjetivos, conscientes e inconscientes.
Como sofrimento inconsciente crônico, o não saber ser feliz. Não sabe o que é a felicidade, pois a busca nos lugares errados. Como sofrimento consciente essencial, relações interpessoais parasitárias, causando prejuízos a si mesmo e aos demais.
O egoísta não tem amigos; tem companheiros de prazeres comuns. Não entende o básico de qualquer relação: abertura ao próximo. Curvando-se sobre si mesmo, é incapaz de ver o real horizonte da vida. Não percebe sua miséria moral.
O ser humano se realiza na abertura, e não no fechamento.
Aprendamos a desprender-nos do próprio eu: essa é a verdadeira fonte da felicidade!
* Diretor do Departamento de Gestão de Pessoas no ISE Business School, filósofo e autor de Fator Humano (DVS Editora)