Ciência no campo

Publicado em 25/10/2016 às 20:38.Atualizado em 15/11/2021 às 21:23.

Adriana Brondani*

Pesquisa conduzida pelo Ibope Conecta revela que o brasileiro não relaciona a produção de alimentos com a aplicação de conhecimento científico. Segundo o levantamento, apesar de 79% dos entrevistados declararem ter interesse por ciência, apenas 23% acreditam que o conhecimento científico auxilia na produção de alimentos.

O dado surpreende uma vez que a agricultura é um dos setores no qual o Brasil mais se destaca. A pesquisa mostra que é necessário aproximar esse tema do cotidiano das pessoas para que elas reconheçam que nem só de eletrônicos e medicamentos vive a pesquisa. 

Ao analisarmos especificamente a percepção pública da transgenia, nota-se uma oportunidade. A grande maioria de respondentes (73%) afirma já ter consumido transgênicos e, entre os 27% que não sabem ou afirmam que não ingeriram, 59% se mostram abertos a experimentar. 

Apesar disso, nenhum dos entrevistados enumerou com exatidão as culturas geneticamente modificadas (GM) plantadas no Brasil. O país cultiva hoje sementes transgênicas de soja, milho e algodão. Na pesquisa, os dois primeiros são citados por, respectivamente, 60% e 51%. A resposta correta é mencionada por apenas 11% dos participantes. 

Um último dado da pesquisa Ibope confirma o distanciamento entre o cotidiano das pessoas e o conhecimento sobre as tecnologias empregadas na produção de alimentos. Ao serem questionados sobre que tipo de substância eles acreditam que consomem ao ingerir alimentos, apenas 17% demonstrou saber que também ingere DNA ao se alimentar de carnes, frutas, verduras e legumes. Mais do que isso, 73% dos entrevistados demonstram preocupação em ingerir essa molécula.

Há um hiato no conhecimento básico. Possivelmente, para aumentar o entendimento sobre a transgenia e seus benefícios, será necessário investir em educação básica, para aprofundar a noção de que a ciência é a base de toda inovação e está presente em todos os aspectos da nossa vida. A constatação de que as pessoas não sabem que há DNA no que ingerem mostra a falta de conexão entre as informações técnicas e a realidade.

(*) Bióloga e diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia. 

 

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