Uso constante de lentes leva jovem à cegueira de um olho

Publicado em 16/09/2024 às 06:00.

Juliana Guimarães*

O alerta da jovem brasileira nas redes sociais, Laura Brandão Tironi, 18 anos, apresentando sua história sobre como ficou cega do olho direito, após usar as lentes de maneira errada, provocou muito burburinho e questionamentos sobre a utilização inadequada dessa correção refrativa. Afinal, a verdade é que as lentes de contato são adoradas por milhares de brasileiros, principalmente, quem deseja enxergar melhor e não quer usar óculos devido a uma questão estética. O alerta é que a opção requer uma série de cuidados para evitar efeitos adversos, inclusive, responsáveis pela perda da visão.

Laura gravou uma série de vídeos explicando a condição e como a situação ocorreu. Os vídeos foram postados nas redes sociais e a história tomou grande proporção, servindo para alertar sobre os riscos de um costume que, infelizmente, para centenas de pessoas, ainda parece inofensivo.

A jovem contou que possuía hábitos incorretos para uso de lentes de contato, como dormir, tomar banho e coçar os olhos, usando elas. Vale lembrar que nenhuma dessas ações é recomendada por médicos e fabricantes, devido à probabilidade de causar uma lesão ou infecção. 

A infecção foi o resultado da imprudência e ausência de cuidados adequados de Laura. Ela acabou sendo infectada por uma acanthamoeba, um protozoário, conhecido como ameba de vida livre (AVL), encontrado no solo, ar, água e, até na mucosa nasal, mesmo em ambientes naturais e limpos.

Geralmente, a infecção é considerada acidental, porém, com alto potencial fatal para a saúde ocular, provocando cegueira, em questão de dias. O risco é maior para pessoas com lentes, destacadamente as de material gelatinoso, permitindo que o protozoário se prenda no objeto. Contudo, ainda vale alertar que a situação pode acometer também quem não usa lentes, mas que frequenta ambientes compartilhados, como piscinas.

Alguns sintomas indicam a origem da condição e a necessidade de consultar um médico ou procurar um hospital, rapidamente, como sensibilidade à luz, lacrimação excessiva, dor, visão desfocada, vermelhidão, sensação de corpo estranho dentro do olho e dores de cabeça intensas.

A recomendação oftalmológica é manter cuidado com as lentes, higienizando-as e trocando-as, conforme as indicações no manual. Além disso, as lentes nunca devem ser usadas em qualquer meio envolvendo água, até mesmo, em banheiras aquecidas, devido ao vapor. 

Outro cuidado, deve ser o tempo de uso das lentes de contato e, apesar do conforto, não devem ser consideradas uma substituição para os óculos, que também têm a função de promover o descanso ocular.

Os diversos modelos de lentes de contato permitem uso contínuo de 14 a 16 horas, dependendo da reação ocular, uma vez que o material diminui a oxigenação do órgão ao longo do tempo. O uso prolongado eleva as chances de deixar os olhos secos e sensíveis e, por isso, deve-se ainda, ter atenção a esses sinais para manter a hidratação. 

Atualmente, Laura está na fila de espera para um transplante de córnea. Trata-se de um dos principais transplantes realizados no Brasil para restauração da saúde ocular, porém, a fila é longa. Para se ter ideia, em maio de 2023, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) apontou mais de 24 mil pessoas em espera, tanto na rede pública quanto privada, um número em constante crescimento, nos últimos anos.

*Oftalmologista 

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