No artigo da semana passada falei sobre a dor da traição e o que mais recebi foram perguntas sobre superação, perdão e voltar a confiar nas pessoas de uma maneira geral.
A traição é um golpe muito duro e nem sempre conseguimos perdoar. A mágoa sentida pode evoluir para revolta e uma incapacidade de voltar a conviver com aquela pessoa. Em alguns casos, os mais graves, há quem não queira mais se relacionar com ninguém pois perde completamente a confiança no outro. Cria-se então um trauma, onde o indivíduo, incapaz de superar, permanece estagnado no medo de que aquilo ocorra novamente.
Perdoar não é tarefa fácil, é preciso empenho, vontade e uma dose de nobreza, afinal quando nos sentimos apunhalados existe um culpado para nossa dor e o pensamento que fica é que perdoar é como deixar de punir alguém por uma falta tão grave. É como abrir mão do pagamento de uma dívida e assumir o prejuízo e isso parece injusto.
Apesar do perdão ser bom para o perdoado, pois este recebe a “anistia”, o maior beneficiado é o perdoador, que limpa a cabeça e o coração daquela mágoa. Além de ficar livre do pensamento ruminante, ainda traz de volta o sentimento de serenidade e paz.
Mas é importante ressaltar: perdoar não significa esquecer e sim transformar as lembranças em memória fria, desprovida de emoção. Quem consegue lembrar do fato e não sentir sentimentos de revolta conseguiu superar o ocorrido e isso não significa voltar a conviver com a pessoa. Essa é uma opção que vai depender da vontade dos envolvidos.
Mesmo quando temos motivos suficientes para virar a página e seguir em frente, nem sempre conseguimos, isso porque perdoar é um processo emocional e não racional. Vai além da lógica. Mexe com questões profundas que nem mesmo sabemos que sentíamos.
Conhecemos um pouco mais sobre nós quando passamos momentos de dor e nos dispusemos a fazer um mergulho honesto dentro de nós com uma boa autocrítica e de preferência acompanhado por um processo terapêutico, o que nem todos estão dispostos. Muitos, ao vivenciar um momento difícil, tratam logo de buscar alívio nas anestesias sociais. Fazem uma maquiagem da dor e tratam o processo na rasura, sem entender as próprias fragilidades. Um desperdício.
Transformar a dor em crescimento não é fácil, e se além disso conseguirmos perdoar, ganhamos duplamente: amadurecemos e limpamos nosso emocional. Uma maravilha!