Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

A distância entre saber o que devemos fazer - e fazer

Publicado em 13/10/2021 às 16:04.Atualizado em 05/12/2021 às 06:03.

Eis uma questão intrigante: sabemos exatamente o que precisamos fazer, o hábito que devemos mudar, o comportamento autodestrutivo que precisamos eliminar, mas não saímos do lugar. Adiamos a execução do que é necessário procrastinando nosso próprio bem-estar. 

Para nos mantermos inertes e diminuir o nível da culpa, é comum elaboramos “mentiras sinceras” para nos convencermos de que as coisas não estão tão ruins assim ou de que não estamos em um bom momento para mudança. Uma mentira! Preferimos conviver com a dor à resolvê-la.
 
Sabemos que seríamos mais felizes ou menos ansiosos se mantivéssemos uma disciplina para os estudos, se economizássemos mais dinheiro, se melhorássemos nossa alimentação, nossa qualidade de sono, mas parece que apenas saber não é suficiente. Há barreiras que precisam ser transpostas para que consigamos alcançar nossos objetivos: o autoboicote. 

Nos boicotamos quando nos rendemos à preguiça, quando somos negligentes com a gente mesmo, quando não damos continuidade ao que começamos, quando perdemos prazos importantes pela falta de ação. 

Há pessoas que quando estão indo muito bem na busca de um objetivo, de repente, sem um motivo real, desistem de continuar. Simplesmente param e não conseguem explicar o porquê. Outra situação comum de acontecer é fazer o contrário do que se deseja, por exemplo, ao invés de economizar, gasta mais;  quando precisa acordar cedo, sente mais sono; quando começa a dieta, come o dobro. Uma postura claramente sabotadora do objetivo principal. 

Esses comportamentos são como um buraco sem fundo, pois contribuem para a diminuição da autoestima e sem ela ficamos sem o combustível principal para executarmos coisas boas. 

Isso ocorre porque a autoestima é um juízo de valor que temos a nosso respeito. Quando nos sentimos satisfeitos com nossas condutas, atitudes, posturas e quando vivemos de acordo com nosso código interno de valores, nossa autoestima sobe. Caso contrário, quando me boicoto, me sinto preguiçoso, indisciplinado, minha autoestima desce e alimenta o círculo vicioso destrutivo. 

Algumas pessoas costumam ser resistentes à terapia por saberem exatamente o que precisam fazer. Mas saber não basta, é preciso mapear os entraves emocionais que impedem a execução. 

Portanto, “curar” esse comportamento requer força interior, mudança significativa de hábito e constância. Não basta o desejo de mudar, é preciso, à luz da consciência,  um exercício diário de disciplina, determinação, características que estão ao alcance de todos. É importante ter em mente que o que determina o êxito da mudança não é o tamanho vontade e sim a disposição para a privação.
 

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