Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

A felicidade e a autorresponsabilidade

Publicado em 16/03/2023 às 07:10.

Percebo no processo terapêutico que uma das coisas mais difíceis de ser quebradas é a projeção da culpa. Isso é, buscar um culpado para justificar nossa dor.

Quando algo ocorre diferente daquilo que esperamos, temos a tendência de buscar um causador para aquele dano. Há sempre uma grande dificuldade em trazer para si a responsabilidade de uma frustração. 

Sempre há uma interpretação: o trânsito ruim para o atraso, a velocidade da vida para a dificuldade em administrar o tempo, a economia ruim para o baixo rendimento da empresa, o metabolismo lento para a dieta que não dá resultado.

O fato é que esse tipo de pensamento existe, onde o outro é o responsável pelo insucesso do projeto, nos leva a acreditar que nunca somos nós os “donos” da nossa vida. Ficamos sempre à mercê do acaso. 

Fato é que a culpa, mesmo sendo aparentemente dos outros, sempre será de responsabilidade nossa. 

O conceito de autorresponsabilidade está ligado à consciência de que somos os únicos dirigentes da nossa vida. Tudo que hoje temos, onde estamos e como fazemos são escolhas nossas. Por isso, talvez a frase “não tenho escolha” seja a manifestação de vitimismo onde o subtexto é “pobre de mim, não posso escolher”. 

Às vezes, temos a impressão de que quando esbarramos em algum obstáculo, ficamos sem saída, ou seja, sem escolha. Mas isso não é verdade. Escolhemos o tempo todo e precisamos trazer essa decisão para nossas mãos. 

Pode até ser confortante pensar assim, mas isso não é emocionalmente saudável e em nada contribui para nossa autoestima, ao contrário, joga contra. 

É claro que não podemos desprezar situações que nos causam prejuízo ou trauma profundo como por exemplo alguém que foi molestado na infância. Monstruosidade dessa natureza sempre será culpa do outro, porem a responsabilidade sempre continuara sendo da vitima. 

Explico melhor. O conceito de autorresponsabilidade não significa se eximir das mazelas da vida ou os algozes que por ventura cruzaram nossos caminhos. Se responsabilizar significa abarcar toda aquela vivência como parte da história da vida. Ou seja, se fui eu a criança violentada, essa é a minha história e é com ela que vou construir meu futuro. 

É como abraçar toda a dor e assumir a responsabilidade de vencer a despeito do passado. Quem não consegue assumir isso corre grande risco de se tornar vitimista. Mas é importante diferenciar: vítima é a pessoa cuja fraqueza foi explorada enquanto vitimista é aquela que, para justificar sua infelicidade, estagna na reclamação e culpa o outro pelo seu sofrimento. 

Portanto, mesmo tendo sido vítima de alguma infelicidade, é preciso assumir o compromisso de conquistar um “lugar ao sol” no qual todos temos direito. 

Se autorresponsabilizar é se apropriar do direito de ser feliz e ter paz mesmo tendo sido injustiçado em algum momento da vida.

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