João era conhecido como o cara legal que ajuda todo mundo. Bastava um telefonema que lá estava ele para ajudar na mudança, no conselho, no dinheiro e em várias outras demandas. Quanto mais complicada era a situação, mais ele era lembrado para ajudar a resolver os problemas. Era tido como um herói entre os conhecidos. João justificava o fato de ser tão prestativo pois não lhe custava nada ajudar, alem de ser fácil e prazeroso.
É inegável que quem ajuda está numa condição muito melhor do que a de quem recebe. Mas há questões que vão além da nobreza da generosidade e esbarram na vaidade e na dificuldade de dizer “não” - nasce aí a Síndrome do Bonzinho.
Precisamos levar em consideração que fomos treinados a pensar que tirar de si para dar ao outro é um gesto nobre, digno de pessoas bondosas e evoluídas. É visto com bons olhos aquele que renuncia aos próprios interesses, desejos ou necessidades em favor de uma outra pessoa ou causa. A prática da abnegação é muito valorizada pelas religiões assim como em nossa sociedade, fazendo com que o sujeito passe de uma categoria comum de ser humano para uma outra, superior.
Aí surge uma dúvida: não existem pessoas genuinamente boas? A resposta é: sim, existem. Mas à luz da psicologia, bom é tudo aquilo que é baseado numa troca justa e equilibrada. Não é saudável ser bom para alguém em detrimento de si, a serviço da vaidade ou por dificuldade em negar.
Aprofundando um pouco mais nesse desconforto em dizer “não” é importante vincular isso ao medo de rejeição. Acreditamos que ao negarmos a solicitação de alguém seremos rebaixados de categoria no imaginário dele. Portanto, atendemos prontamente o pedido do outro, não pela vontade genuína de servir, mas para evitarmos perder prestigio e significância.
E, por fim, é importante ressaltar a questão da vaidade, afinal ajudar o outro traz um prestígio extra, uma imagem positiva e não deixa de ser uma boa propaganda de si mesmo.
Todos esses comportamentos têm as raízes fincadas na baixa autoestima, que nos deixa sentir ora devedores, ora culpados por ter muito, fazendo com que através da nossa bondade aumentemos também o nosso juízo de valor sobre nós mesmos. Isso explica a sensação de bem-estar que as pessoas sentem ao ajudar os outros.
De uma maneira geral, atitudes benevolentes, bondosas e generosas nos projetam num caminho melhor e devemos praticá-las, porém igualmente importante é estarmos atentos às motivações que nos impulsionam a elas.