Não raramente recebo indagações sobre qual seria a melhor maneira de cuidar e ajudar o outro - ajudar a ser mais sereno, mais estável emocionalmente, mais calmo, entre outras coisas dessa natureza.
Geralmente, a maneira usual mais praticada (e também muito desgastante) é falando como o outro deve se comportar, mostrando os prejuízos de agir de tal forma e tentando, por meio das palavras, despertar uma consciência supostamente adormecida.
Essa conduta às vezes funciona, mas só para quem ja está disposto à mudança e incomodado com seu próprio jeito de ser. Mas, na maioria das vezes, a própria pessoa ja tem consciência do problema e não muda por alguma dificuldade, fragilidade ou vantagem em ser daquela forma. Disse Freud: quando a dor é maior que o ganho, o individuo muda.
Há um conceito distorcido sobre o que de fato significa cuidar e ajudar alguém: como uma missão que traz para si a responsabilidade de salvar o outro. Um equívoco! Ninguém tem o poder de evoluir o outro. Cada um evolui a si próprio e mesmo assim com muita dedicação, empenho e vontade própria. Assumir esse papel não só é desviar a atenção de si como também tem uma pretensão ilusória. A verdade é que temos pouco a fazer pelo outro e muito para fazer por nós.
Dessa forma, a melhor maneira de cuidar do outro é cuidando de si.
Nossa sociedade valoriza muito o sofrimento, e por isso crescemos acreditando que quanto mais eu me esforçar e carregar um grande fardo, maior será minha vitória. Com isso, valorizamos muito a cultura do problema. Somos muito estimulados a sofrer e pouco nos ensinam a sair do problema. Talvez por isso olhamos tanto para a vida do outro e esquecemos da nossa. O que não faz sentido: é como se estivéssemos com a casa suja, mas nos propondo a limpar a do vizinho.
É importante observar que “cuidar de si” não flerta, nem de longe, com qualquer conceito de egoísmo. Egoísmo não é querer para si, e sim tirar do outro. Propor-se a cuidar de si significa, primeiramente, uma honestidade emocional para que a conduta não esbarre na hipocrisia. Aliás, muitas vezes essa preocupação com o outro tem a ver com o desvio do exercício da própria autocrítica. Quando olhamos para nós, de forma verdadeira, temos tanto a fazer que deveríamos nos ocupar disso.
Algumas perguntas podem ajudar a perceber a “faxina" que precisamos fazer em nós:
- Você tem mágoas que precisam ser limpas?
- Você tem vícios que precisam ser eliminados?
- Você tem ruminações mentais que não consegue controlar?
- Você tem condutas autodestrutivas?
- Você procrastina ou é resoluto?
- Você cumpre as metas e planos que você próprio estabelece?
- Você é crítico?
- Você sofre com ansiedade?
Se você tem algumas questões emocionais a serem resolvidas, é sempre melhor se ocupar delas. Estar sereno, leve, ser justo consigo e com o outro e não levar seu caos interno, seu egoísmo e sua vaidade para a vida de ninguém é a melhor e mais verdadeira forma de ajudar o outro.