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Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

A raiva e o vitimismo

Publicado em 10/04/2025 às 06:00.

Aprender a nos relacionar com diversos tipos de pessoas deveria ser uma competência  desenvolvida por todos. Dada a multiplicidade de comportamentos, personalidades, temperamentos e elasticidade ética, não deveríamos colocar nossa felicidade à mercê da conduta alheia. 

Não é difícil  ver alguém se queixar que o comportamento inadequado do outro estragou seu dia. Ora, se assim estamos, tão vulneráveis, precisamos rever a importância que estamos dando aos outros e também nossa blindagem emocional. 

Diz a mensagem do livro Minutos da Sabedoria: “Não perca sua calma. Não se deixe dominar pela cólera. Que jamais o sol se deite sobre sua raiva. Contenha-se o mais que puder. Um simples raio de cólera pode destruir longas e pacientes sementeiras de amor e carinho! Procure dominar-se. Quem sabe se a pessoa que o ofendeu não está doente? Não perca sua calma… Seu fígado é demais precioso para que você o estrague”. 

Além de danos em nossa saúde física, enfraquecemos também nossa força psíquica, isso pelo teor infantil que a raiva carrega - ela é acusativa, tem sempre um culpado, um responsável pela nossa dor. Mesmo quando o fator gerador da raiva existe de fato e é legitimo, como é o caso de quando sofremos uma injustiça, por exemplo, devemos nos atentar para que aquilo não deságue em alguns comportamentos inadequados, como a reatividade. Quando reagimos motivados pela raiva, nos sentimos mais valentes, corajosos e nos autorizamos, portanto, a ter comportamentos à altura da nossa dor - uma manobra inconsciente que busca o ressarcimento. Nessa hora nos transformamos e fazemos coisas que usualmente não faríamos, como: aumentar o tom de voz, fazer ameaças e ter gestuais agressivos e em alguns casos mais graves, agressões físicas. Quando a raiva passa, geralmente vem o arrependimento, a vergonha e as consequências daquele comportamento. 

Outro efeito que a raiva faz é deixar a pessoa monotemática. Quem está com raiva não despega da situação, fica dias, meses, reclamando do ocorrido incontáveis vezes. Fala daquilo toda hora, até com estranhos. A queixa tem sempre um subtexto que diz “pobre de mim”, fizeram isso comigo. Quem reclama geralmente busca também a indignação de quem ouve, o que é para ele um reforço positivo para sua dor. 

A raiva aliada à reclamação pode se transformar em um obstáculo, criado pela própria pessoa, que a faz desanimar de iniciar outras coisas. Quem fica preso à raiva não vai para frente, pois tem uma boa justificativa para a estagnação. 

O teor vitimista da raiva não é claramente percebido. Ha uma ideia inconsciente que enquanto eu sinto raiva do que o outro fez, sinto pena de mim de ter sofrido com aquilo. Por isso tantas pessoas têm dificuldade em perdoar, pensam que o perdão é uma alforria para o malfeitor. Não deixa de ser, mas, na maioria das vezes, quem provocou a raiva nem se lembra mais, ou não tem dimensão do estrago que causou; já quem sentiu segue sofrendo. Nesse caso, perdoar é um caminho para cura, mas é importante ressaltar: perdoar não significa esquecer e sim transformar as lembranças em memórias frias desprovidas de emoções. Quando isso ocorre, jogamos a bola para frente e saímos da condição de vítima. 

O que fazer com o ocorrido? Aprender a lição e ser mais gentil consigo, sabendo que não estamos isentos de passar raiva, mas precisamos ter em mente que o quanto antes nos livrarmos dela, maior nossa maturidade emocional. 

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