Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

A vítima e a vitimização

Publicado em 04/08/2021 às 20:28.Atualizado em 05/12/2021 às 05:36.

Quem se coloca como “vítima da vida” não se sente em condições de virar o jogo e fazer as mudanças que são necessárias e está sempre encontrando responsáveis para justificar sua falta de ação e ou fracassos. Tudo é culpa do outro.
 
Mas precisamos avaliar com cautela e diferenciar o que significa ser vítima e vitimista. 

Vítima é aquela pessoa cuja fraqueza foi explorada. Mesmo tendo sofrido um golpe, ela não se apropria do problema. Cai e levanta, por mais dura que seja a queda. Para isso, usa sua própria força interior ou recorre a alguma ajuda.

Já o vitimista é diferente. Não age em prol da solução. Ao contrário, fica estagnado na dor como justificativa para sua infelicidade. Está no fundo do poço, mas não busca formas de sair e sim fica lamentando que ninguém o tira de lá ou joga uma corda. 

Muitas vezes abominamos esse comportamento no outro mas, curiosamente, não percebemos a mesma conduta em nós. Isso porque nem sempre a vitimização não é tão óbvia. Muitas vezes ela é sutil e vem travestida de outras formas, por exemplo:

Reclamação: reclamar é uma maneira poderosa de obter vantagens, pois geralmente a história triste contada por quem reclama sensibiliza o interlocutor, que acaba oferecendo ajuda devido à comoção. A partir do momento que um joga a reclamação no colo do outro, este se sente obrigado a ajudar, e caso não o faça, se sente culpado ou egoísta. Uma manobra que mesmo sendo inconsciente não deixa de ser obtenção de vantagens. Reclamando, o vitimista se coloca como injustiçado e espera receber aquilo que não dá. E quanto mais recebe, mais quer receber e mais reclama. Um buraco sem fundo. 

Urgência: acreditar que a dor que está sentindo é maior que a do outro, por isso merece mais agilidade no atendimento, mais atenção, mais paciência. O vitimista geralmente se sente merecedor de privilégios e deferências.
 
Se sentir injustiçado ou prejudicado: é comum ao vitimista se sentir sempre explorado, injustiçado e culpar alguém por isso. Sim, podemos sofrer uma trapaça de alguém, mas há um ditado que diz: “quando o outro erra uma vez comigo a culpa é dele, quando erra duas, a culpa é minha”. 

Exagero: exagerar nas narrativas potencializa o problema. Se algo ruim aconteceu, o exagero faz virar uma hecatombe. 

Não se autorresponsabilizar: o problema é sempre o outro. Para o vitimista, nada nunca teve sua parcela de contribuição. 

Mas por que agimos assim? 

A primeira questão fala sobre nossa imaturidade. Na infância, crianças que só conseguiam a atenção dos pais quando adoeciam, choravam ou se machucavam aprenderam que o amor só vem dessa maneira. 

Se não houver um processo de maturidade emocional, esse indivíduo será um adulto vitimista que usará desse expediente para ser acolhido e receber ajuda. Além disso, há também a carência afetiva daqueles que se sentem pouco amados.

Porém, nem todos os vitimistas têm seu problema alicerçado nas questões emocionais, muitos são oportunistas mesmo. 

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