Já falei aqui nessa coluna, em artigo anterior sobre a Síndrome de FOMO – sigla que vem da expressão em inglês “fear of missing out” que, traduzida para o português, significa “medo de ficar de fora”. Ocorre quando um indivíduo acredita que ficar em casa não é sinônimo de descanso e sim de ansiedade por medo de estar perdendo algo “extremamente interessante”. Mesmo que ele volte frustrado, isso não diminui a vontade de ir no próximo evento. Mesmo que seja mais do mesmo, a pessoa continua acreditando que se não for em determinado lugar estará perdendo e assim segue em busca de algo que nem ela mesmo sabe o que é.
Na contramão desse pensamento, temos a Síndrome oposta – JOMO que significa “alegria de ficar de fora”. O conceito se aplica àqueles que não tem interesse em participar de nada que seja muito concorrido. Aliás, querem exatamente estar no caminho contrário de onde todo mundo está indo, estão correndo de festas e confusões. O pensamento é exatamente o oposto: eles acreditam que não tem nada de interessante acontecendo, e se tiver, acreditam que estarão muito mais felizes na paz da sua casa ou em reuniões de pequenos grupos de amigos.
Mas não é só no contexto social que essa síndrome se manifesta. Esse estilo também teve muita adesão na área do turismo onde as pessoas ao saírem de férias entravam numa rotina tão intensa que voltavam muito cansadas precisando de férias das férias. E assim começaram a procura por roteiros mais tranquilos.
Para se ter uma ideia, o relatório anual produzido pela Expedia, uma das maiores agencias de viagens on line do mundo, investigou cerca de 25 mil pessoas de 19 países diferentes e concluiu que há uma tendência de buscar lugares para fugir das massas de turistas. De acordo com o relatório, 63% das pessoas buscavam um destino menos conhecido e lotado. E 62% daqueles que já fizeram uma “Jomo travel” afirmaram que voltaram mais felizes, menos estressados e ansiosos. Além disso, disseram que viagens assim os permitiu se conectar melhor com as pessoas que amam ou até consigo mesmas.
De uma maneira geral, aqueles que tem afinidade com a FOMO, são mais gregárias, sentem prazer na interação social, gostam de se conectar e expandir o grupo de amigos. São também por vezes mais carentes emocionais, não gostam de ficar sozinhos pois parece que estar nessa condição escancara o vazio que sentem, portanto evitam ao máximo espaços livres. Gostam mesmo de chegar em casa na hora de dormir. E quando não tem nada para fazer, cavam essa oportunidade ligando para amigos, chamando para sair ou se oferecendo para entrar na programação deles. O sentimento de incompletude é tão grande que fazer algo é uma maneira de “complementar-se”.
Já o outro grupo, os que sentem JOMO, são menos sociáveis e agregadores, não sentem prazer em eventos sociais, em jogar conversa fora, festas, musicas altas, lugares cheios e gente bêbada. Os menos radicais vão a esses lugares de vez em quando, mas gostam mesmo de ficar tranquilos. Geralmente são pessoas mais autossuficientes, que se sentem completas com atividades mais intelectuais, gostam de ler, de ver filmes e quase nunca se sentem sozinhos. São apreciadores da solitude e vivem bem em sua própria companhia. No fundo, a alegria de ficar de fora demonstra a felicidade de estar dentro (de si mesmo).
Mas não devemos confundir JOMO com timidez, vergonha de socializar ou fobia social. O primeiro é opcional, tem a ver com estilo de vida, bem-estar e alegria; já o outro é fuga para não enfrentar as fragilidades emocionais. Duas coisas diferentes!