Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Além da traição

Publicado em 26/10/2016 às 18:12.Atualizado em 15/11/2021 às 21:23.

A traição numa relação amorosa vai muito além da presença de uma terceira pessoa. Um relacionamento é um acordo de confiança, respeito e ajuda mútua. Tudo que viole este contrato pode constituir infidelidade. Como por exemplo: 

- Promessa quebrada: o casal combina algo, porém só um lado cumpre, o outro trai o acordo. Combinado a dois, “descombinado” a um. 

- Ausência de reciprocidade: parceiro que ajuda o outro na dificuldade, porém não tem a mesma resposta quando está na condição desfavorável. 

- Intimidade revelada: segredos e intimidades vivenciadas a dois que são deliberadamente compartilhadas. 

- Aliança oculta: ocorre quando um dos parceiros se une a outras pessoas (parentes e amigos) para falar mal, criticar e tramar contra o outro. 

- Indiferença e frieza: quando o parceiro não vivencia a emoção do outro e nem se esforça para tal. Há um descaso pela vida do parceiro. 

- Traição virtual: quando há uma relação íntima com alguém – troca de confidência, intimidade, fotos e mensagens de cunho erótico. 

- Ataque ao ponto fraco: ocorre quando um faz uso da fraqueza do outro para feri-lo. É como matar alguém com a própria arma dele. O parceiro confidencia a posse de uma arma, revela onde ela está escondida e a senha do cofre. O confidente vai lá, abre o cofre, pega a arma e atira contra ele. Tudo que você disse foi usado contra você.

- Traição sexual – aqui temos dois tipos de pessoas: os frequentes e os casuais. Os frequentes são aqueles que não conseguem se relacionar sem trair. Não freiam seu desejo, traem sempre que sentem vontade. Estes, são indivíduos sem freio moral. Mesmo comprometidos vivem seduzindo e cavando novas oportunidades de conquista. Traem o parceiro sem remorso nem culpa e ainda se gabam da sua competência. Usam desse expediente como fonte de prazer e artifício para manter a relação principal. Já os casuais são aqueles que, em situações específicas, sentem-se motivados para trair, mas, por terem um freio moral mais acentuado, sentem-se culpados, com receio de magoar o outro, e tentam ao máximo conter seus desejos.

- Traição fatal: acontece quando um dos dois traz para o parceiro uma doença sexualmente transmissível. 

Frente a diversas formas de traição vem à tona a questão: É possível perdoar?

Isso vai depender de cada um. Mas acredito que o perdão torna-se mais fácil quando há um arrependimento por parte de quem violou o contrato. E até nessa hora é preciso estar atento, pois há pessoas que só se arrependem por interesse– um arrependimento burocrático. Não querem perder as regalias do casamento e por isso juram nunca mais errar e prometem mudança. Mas como não estão verdadeiramente arrependidos, em pouco tempo voltam a cometer os mesmos erros. Mas há os que de fato se arrependem – os genuinamente arrependidos. Estes sentem-se culpados, percebem o erro que cometeram, o mal que causaram ao companheiro, e mudam. 

A diferença entre um e outro, não está na prédica, mas sim na prática. Só o tempo dirá. 

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