“Cheguei à triste conclusão de que não sei amar. Se namoro alguém, minha vida vira um caos. Eu deixo de existir e dou lugar à existência do outro. Sei que tudo que faço é errado, largo meus programas, amigos e até família para me colocar à disposição do outro. Parece que tem um comando na minha cabeça para agradar o tempo todo passando por cima das minhas vontades. Aliás, estranhamente perco as minhas próprias vontades.
O estado de ansiedade é constante e sinto uma mistura de tristeza e felicidade juntas. Perco minha paz. Chega uma hora que tudo isso fica inviável e a pessoa acaba desgostando de mim, começa aí um desgaste muito grande, pois eu não paro de servir o outro mesmo sendo maltratada.
A minha cabeça sabe que preciso sair fora, mas meu comportamento não obedece. Passo o dia treinando o discurso do término e quando chega a hora mudo tudo. Sei que já não gosto da pessoa, mas falo com ela que amo. Pareço doida. E quando ele, já cansado da minha instabilidade emocional, termina a relação, eu sofro tanto que parece que vou morrer. Quando passa, nem lembro que a pessoa existe, ou seja, não gostava tanto assim. Sozinha volto a ter minha vida, ser feliz e ter paz e quando começo a namorar de novo, tudo volta igual”.
Relato de uma leitora.
O termo vem do "Love addict" e é usado por escritores americanos para mapear o transtorno psicológico que transforma a relação afetiva em algo instável e problemático, tendo o indivíduo mais tristezas que alegrias. Parece estranho, mas é mais comum que se imagina.
A forma patológica de amar implica em renunciar a si mesmo para agradar o outro, o colocando numa algema de ouro. O pensamento é: me darei por inteiro para evitar a rejeição, mas cobrarei uma atitude à altura. O que prepondera não é o amor e sim o atrito, a discussão e os problemas.
É claro que numa análise racional é melhor desfazer uma relação nesses moldes, contudo há os que só sabem se relacionar assim, de modo doentio, ora se doando demais, ora sendo demasiadamente egoístas. Os papeis se revezam e os próprios envolvidos já não conseguem mais mapear de onde nasce o problema. Nessa história não há um saudável e um problemático. Quem suporta relação assim também tem uma codependência. Geralmente é a chave e a fechadura.
Mas como saber se nos enquadramos no formato do amor patológico?
Embora seja difícil descrever em itens, alguns comportamentos podem ser sinalizadores para nossa autoavaliação. São eles:
- Afastar de si para se aproximar do outro;
- Fazer coisas que agradem o outro não por prazer, mas como forma de ser aceito;
- Sentir que se não fosse seu esforço, a relação terminaria;
- Sente racionalmente que não está feliz, mas cria justificativas para explicar os problemas;
- Vive tentando criar consciência no outro de que as atitudes dele te ferem;
- Se sente infeliz dentro da relação, mas não consegue se ver fora dela;
- Faz de tudo para evitar o término, pois não suporta a ideia de pensar que o outro não quer a relação;
- Tem medo de ficar sozinho;
- Sente solidão a dois;
- Associa amor com dor;
- Não passa mais de uma semana bem e já inicia uma briga;
- Acredita que “antes só que mal acompanhado”, mas no fundo está “mal acompanhado”
- É aparentemente feliz, mas por dentro sente constante tristeza e frustração;
- Acredita que é legitimo “lutar por amor”.
Livrar-se do padrão mórbido de se relacionar requer autoconhecimento, mudança comportamental e sobretudo autorresponsabilidade, uma combinação que exige esforço e empenho, coisa que nem todos estão dispostos a ter.