Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Análise comportamental da ansiedade

Publicado em 14/12/2023 às 06:00.
Ansiedade é a angústia derivada da vontade de controlar aquilo que não se tem controle. O ansioso é, portanto, um controlador que adoece pela própria incompetência em aceitar as coisas como elas são. Essa dificuldade tem a ver com um equívoco de premissa onde pensam que para fazer as coisas darem certo é preciso ter controle da situação e quem não age assim é irresponsável. Convém verificar com cautela essa forma de pensar. 

Existem alguns comportamentos que de fato permeiam a irresponsabilidade. São aquelas pessoas que não fazem o que precisariam fazer, deixando as coisas acontecerem de forma desorganizada. Não se preocupam com as consequências disso pois são desleixadas com a própria vida e delegam ao acaso as suas conquistas. Estes raramente são ansiosos, mas não pela sua inteligência emocional e sim pela forma negligente de ser. 

Há, porém, um grupo de pessoas que, como as anteriores, não são ansiosas, mas pelo motivo oposto. Estão sempre em dia com o que lhes compete fazer, porém sabem que são limitadas e precisam se ocupar somente daquilo que está em suas mãos. São resolutas, não jogam poeira debaixo do tapete e nem se preocupam com o que está além do seu controle. Fazem o que pode ser feito e relaxam. Não se sentem ansiosas pois sabem que deram o seu melhor. 

Já os controladores não conseguem parar onde termina sua atuação, querem ir além. Têm a pretensão de controlar o relógio, o trânsito, o comportamento alheio, a conduta inadequada do outro, se comportando como um maestro que orquestra a vida - cada nota fora do tom é um sofrimento descomunal. Como trazem para si a responsabilidade de fazer tudo dar certo, quando algo sai errado se culpam pelo fracasso. Além do sofrimento, vivem em constante estado de ansiedade. Para esses, todas as tarefas são penosas, até as coisas boas como planejar uma festa, por exemplo, são permeadas por estresse. 
Nessa mesma vertente há também quem, apesar de tentar controlar a situação, não é tão proativo, paralisa em algum entrave emocional como o medo, insegurança, dificuldade em se posicionar, receio do fracasso, vergonha. Ao se depararem com essas fragilidades emocionais, sentem-se extremamente ansiosos, pois sabem que deveriam estar agindo, mas estão parados nas próprias travas. Sentem-se incompetentes e se punem ativando o estado de ansiedade ao máximo. 

O mesmo ocorre com quem procrastina. Não existe um procrastinador satisfeito. Todos abominam a própria conduta. Podem até dizer que lidam bem com isso, mas a voz do inconsciente não cala. A sensação de irresponsabilidade é constante e a cabeça não para de pensar na pendência, o motor que não desliga e não só drena a energia deixando o indivíduo exausto, como um gerador interminável de ansiedade e insatisfação. 

E por fim não dá para deixar de fora os perfeccionistas,  tendência de certas pessoas, geralmente talentosas, de buscarem um estado perfeito em tudo que fazem. Exigem tanto de si, um resultado tão espetacular, impecável e sem erro, que acabam ficando paralisadas em suas atividades. O compromisso que travam com o perfeito, atrelado ao pavor de errar, torna toda atividade muito penosa. Não há leveza, só rigor. O clima é sempre de angústia e ansiedade. 

Entendermos em que quadrante nos encontramos é o primeiro passo para iniciarmos um novo jeito de ser. 
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