Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Ano novo e as mudanças de vida

Publicado em 28/12/2023 às 06:00.
Fim de ano gera em nós a sensação de um novo ciclo e um bom momento de revisitar os projetos de mudar e/ ou implementar algo em nossas vidas. Um ano novo chega como uma nova promessa, cheio de novas possibilidades, mas nada muda se não for por meio das nossas ações. 

Diz o ditado: “desejo sem ação é pura ilusão”. E é verdade. Muitas vezes desejamos verdadeiramente algo, mas nada fazemos para alcançá-lo; queremos mesmo que o cenário se transforme para que possamos usufruir dos resultados. Outras vezes, sabemos que precisamos nos movimentar, mas simplesmente não conseguimos sair do lugar. Nem sempre por nossa culpa – mudar é realmente algo muito difícil. São comportamentos arraigados e padronizados, como um costume difícil de ser alterado, e com isso permanecemos insatisfeitos, na mesma condição, por anos.

Mudar é um processo difícil, que requer esforço, disciplina, privações, determinação e várias outras atitudes que são imediatamente desprazerosas e sacrificantes. Não é fácil quebrar a inércia e abandonar padrões repetidos por anos. Além disso, é preciso lidar com a possibilidade do fracasso, e algumas pessoas, por serem perfeccionistas e não se permitirem errar, temem inconscientemente a mudança por receio de não dar conta dela - preferem a zona de conforto conhecida, ainda que desconfortável, ao risco de não conseguir êxito na tentativa de sair dela. 

Outra questão que aumenta a dificuldade em relação à mudança deriva do fato de que para conseguirmos mudar um único comportamento é preciso mudar vários outros em torno dele, como por exemplo: deixar de ser sedentário e fazer atividade física implica em acordar mais cedo, dormir mais cedo, se organizar melhor, se privar de algo prazeroso, como ver televisão até mais tarde, sem falar na mudança de hábitos alimentares – que passa pela privação de prazer, tornando o processo algo muito penoso.
Há também as mudanças no campo emocional, que são ainda mais profundas: mudar um jeito explosivo, antissocial, a timidez, enfrentar medos objetivos e subjetivos como a dor da rejeição, ser menos rancoroso, sofrer menos com coisas pequenas, aprender a dizer “não”, lidar melhor com o sentimento de remorso e culpa, entre outros inúmeros avanços que almejamos no campo emocional.

Evoluir e nos tornarmos pessoas melhores para nós mesmos passa antes pelo processo de autoconhecimento, humildade e, sobretudo, amor próprio. Alem disso, é preciso empenhar esforços numa caminhada sabendo que não há atalhos - a ilusão sabota o propósito.

Quem almeja uma vida melhor, com mudanças significativas para o próximo ano, precisa abrir mão de um prazer imediato em prol de uma recompensa futura; tolerar um sacrifício em prol de um bem maior. Conseguir agir assim é sinal de maturidade emocional. Em termos de satisfação, não há dinheiro que pague. 
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